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sábado, 7 de maio de 2011

CORPOS EM EVIDÊNCIA*


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1vzyjXlYD6QmyEFPu32IPWlWsPJq0vIAlE_gBDAsE4qu5fA4q_pw41pcM5QGIayfpUsYi7ZysxXzlKY10UKmR1LBXrI2AuzVc_rG0dWGswhZyclNllDiLhkPve0GnTrkGFyz5SwvFyIk/s1600/corpos.jpg

A exposição máxima do corpo na mídia, a busca pelas formas perfeitas e a redução de espaço entre público e privado esvaziam a sexualidade de seu sujeito, que, sem rumo, apóia-se na visibilidade máxima das superfícies corporais para ganhar identidade.

Nas últimas décadas observa-se o crescimento, sem pausa, da exposição do corpo na mídia. A multiplicação de imagens segue o movimento de visibilidade máxima, em que o corpo parece não ter mais sombras, mais esconderijos. A ênfase em si mesmo o transforma em tela. Nessa concretização radical, o sujeito psíquico é jogado para outro plano e o corpo torna-se sua quase exclusiva marca identitária. Esvaziado do sujeito, passa a viver com certa autonomia, como se nele ninguém habitasse. O desenho de Andy Warhol (1928-1987) Be a somebody with a body (Seja um alguém com um corpo) é exemplar desse processo, pois denota um corpo “valorizado” em sua constituição física, como um “alguém”. É o busto de um homem forte, malhado e poderoso, com os braços cruzados, feito por um artista que destacou a superfície em detrimento do conteúdo e inaugurou a serialização como negação do “um”.
O crítico literário e teórico marxista americano Frederic Jameson, em seu livro Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio (1996), elege os trabalhos de Andy Warhol como um dos exemplos de pós-modernidade. Segundo ele, “encontramo-nos diante de um novo tipo de achatamento, de uma falta de profundidade, de um tipo de superficialidade em seu sentido mais literal. Talvez essa obsessão pelas superfícies seja a característica formal suprema do pós-modernismo”. Nessa linha, o autor afirma que os discursos culturais estão mais baseados em uma multiplicidade de superfícies em detrimento de modelos de profundidade, como dentro/fora, essência/aparência. A pintura de Warhol, chapada e com certo brilho decorativo, transporta-nos em direção à ausência de sujeito.
*Por Magda Guimarães Khouri, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

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