A
exposição máxima do corpo na mídia, a busca pelas formas perfeitas e a
redução de espaço entre público e privado esvaziam a sexualidade de seu
sujeito, que, sem rumo, apóia-se na visibilidade máxima das superfícies
corporais para ganhar identidade.
Nas
últimas décadas observa-se o crescimento, sem pausa, da exposição do
corpo na mídia. A multiplicação de imagens segue o movimento de
visibilidade máxima, em que o corpo parece não ter mais sombras, mais
esconderijos. A ênfase em si mesmo o
transforma em tela. Nessa concretização radical, o sujeito psíquico é
jogado para outro plano e o corpo torna-se sua quase exclusiva marca
identitária. Esvaziado do sujeito, passa a viver com certa autonomia,
como se nele ninguém habitasse. O desenho de Andy Warhol (1928-1987) Be a somebody with a body
(Seja um alguém com um corpo) é exemplar desse processo, pois denota um
corpo “valorizado” em sua constituição física, como um “alguém”. É o
busto de um homem forte, malhado e poderoso, com os braços cruzados, feito por um artista que destacou a superfície em detrimento do conteúdo e inaugurou a serialização como negação do “um”.
O crítico literário e teórico marxista americano Frederic Jameson, em seu livro Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio (1996),
elege os trabalhos de Andy Warhol como um dos exemplos de
pós-modernidade. Segundo ele, “encontramo-nos diante de um novo tipo de
achatamento, de uma falta de profundidade, de um tipo de
superficialidade em seu sentido mais literal. Talvez essa obsessão pelas
superfícies seja a característica formal suprema do pós-modernismo”.
Nessa linha, o autor afirma que os discursos culturais estão mais
baseados em uma multiplicidade de superfícies em detrimento de modelos
de profundidade, como dentro/fora, essência/aparência. A pintura de
Warhol, chapada e com certo brilho decorativo, transporta-nos em direção
à ausência de sujeito.
*Por Magda Guimarães Khouri, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
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