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quinta-feira, 29 de maio de 2008

MITOS: PARADIGMAS DO SER HUMANO

Vera Chvatal 

Segundo capítulo: A dimensão cultural = o mito de Prometeu

Prometeu, deus do fogo, aparece na mitologia clássica como o iniciador da primeira civilização humana. Forma o homem com o limo da terra e, para o animar, rouba o fogo do céu e o presenteia, sensibilizado por sua miséria.
Entretanto, Zeus, o poderoso deus do Olimpo sentindo-se traído manda acorrentá-lo no mais alto cume do Cáucaso para castigá-lo. Para infortúnio de Prometeu, todas as manhãs uma águia devorava-lhe o fígado, que durante a noite se refazia.
Esse suplício deveria durar mil anos, mas, ao fim de 30 anos, Zeus o perdoou e o introduziu entre os imortais do Olimpo.
Esse mito simboliza o início da humanidade enquanto criadora de cultura, pois através da descoberta do fogo os seres humano foram distanciando-se de sua primitivismo animal.
A cultura é o processo pelo qual o ser humano acumula as experiências que vai sendo capaz de realizar, discerne entre elas e fixa as de efeito favorável. Como resultado da ação exercida, converte em idéias as imagens e lembranças, a princípio coladas às realidades sensíveis, e que depois são generalizadas a partir desse contato inventivo com o mundo natural.
O mundo resultante da ação humana é um mundo que não pode mais ser chamado de natural, pois encontra-se cada vez mais humanizado. E o trabalho, ao mesmo tempo que transforma a natureza adaptando-as às necessidades humanas, altera o próprio ser humano desenvolvendo suas capacidades (em todos os sentidos, sem juízo de valor).
A cultura é, portanto, um processo de autoliberação progressiva do ser humano, que o caracteriza como um ser de mutação, um ser de projeto que se faz à medida em que transcende sua própria experiência.

Foto Vera/Grécia 2009

terça-feira, 27 de maio de 2008

Livros para ler e imprimir

Ótima biblioteca digital desenvolvida pelo governo brasileiro, com software livre, para pesquisar, ler e imprimir excelentes obras.
Confiram!

Nietzsche e a Cultura

(Do livro: Nietzsche Educador, Rosa Maria Dial, Editora Scipione,1990, pág. 81)

O Egoísmo das classes comerciantes – As classes comerciantes necessitam da cultura e a fomentam, embora prescrevendo regras e limites para sua utilização. Eis o seu raciocínio: quanto mais cultura, maior consumo e, portanto, mais produção, mais lucro e mais felicidade. Os adeptos dessa fórmula definem a cultura como um instrumento que permite aos homens acompanhar e satisfazer as necessidades de sua época e um meio para torná-los aptos a ganhar muito dinheiro. Assim, os estabelecimentos de ensino devem ser criados para reproduzir o modelo comum e formar tanto quanto possível homens que circulem mais ou menos como "moeda corrente".
Com a ajuda de uma formação geral não muito demorada, pois a rapidez é a alma do negócio, eles devem ser educados de modo a saber exatamente o que exigir da vida e aprender a ter um preço como qualquer outra mercadoria. Assim, para que os homens tenham uma parcela de felicidade na Terra, não se deve permitir que possuam mais cultura do que a necessária ao interesse geral e ao comércio mundial.

5. Nietzsche como educador hoje
(Do livro: Nietzsche Educador, Rosa Maria Dial, Editora Scipione,1990, pág. 114 e 115)

Será que o pensamento de Nietzsche pode ser usado, hoje, como um instrumento para pensar a educação: Será que seu exemplo ainda pode servir para nos educar e, consequentemente, educar a quem educamos?
Não há dúvidas quanto a essas questões. Nietzsche apontou problemas que, apesar dos esforços de alguns educadores bem-intencionados, ainda não foram resolvidos. Um deles – e talvez o mais grave – é o ensino da língua materna, até hoje um grande desafio. Cada vez mais, abandona-se a formação humanista, em favor de uma educação voltada para as necessidades do parque industrial.
Isto incentiva os indivíduos a um preparo rápido – uma profissionalizaçã o – que os torne aptos a trabalhar na "fábrica da utilidade publica" e a servir como técnicos na maquinaria do Estado. Uma formação humanista seria um luxo que os afastaria do mercado de trabalho.
Como filósofo-educador e "médico da cultura", Nietzsche repensou as questões de educação a partir das necessidades vitais (que não se resumem à sobrevivência) , e não às do mercado de trabalho, criado para satisfazer as exigências do Estado e da burguesia mercantil.
Adotou a vida como critério fundamental para todos os valores da educação e, com isso, destruiu as convicções que sustentavam o sistema educacional de sua época.
... Tomar Nietzsche como exemplo significa educar-se incansavelmente; adquirir uma capacidade crítica pessoal e uma capacidade de pensar por si; aprender a ver, habituando o olho no repouso e na paciência; dominar o "instinto do saber a qualquer preço", utilizando este princípio seletivo: só aprender aquilo que puder viver e abominar tudo aquilo que instrui sem aumentar ou estimular a atividade; manter uma postura artística diante da existência, trabalhando como artista a obra cotidiana; "dar à vida o valor de um instrumento e de um meio de conhecimento" , procedendo de modo que os falsos caminhos, os erros, as ilusões, as paixões, as esperanças possam conduzir a um único objetivo – a educação de si próprio.
Em suma, tomar Nietzsche como exemplo não é pensar como ele, mas sim pensar com ele: "Nietzsche" não é um sistema, nem mais um pensador com um programa de educação. Nietzsche, como afirma Gérard Lebrun, "é um instrumento de trabalho insubstituível".



Recebi esta interessante reflexão do amigo André Zanarella.
Por ser extremamente pertinente, publico-a no meu blog, pois vale a pena conhecer e aprofundar-se nessa questão educacional e existencial.

Greenpeace pede mais empenho do governo brasileiro para aprovação de santuário de baleias

Porque não nos unimos através de mensagens para o Congresso Nacional reivindicando a criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul? É algo que merece o nosso empenho, por isso disponibilizo abaixo alguns endereços eletrônicos para enviarmos nossas mensagens: amir.lando@senador.gov.br; cristovam@senador.gov.br; eduardo.suplicy@senador.gov.br

Cãozinho esperto percorre a costa italiana em curta-metragem

Vejam que fôfo!!!

Vídeos interessantes

Esses vídeos superinteressantes da Discovery Brasil denominados ¨Planeta Extremo¨ mostram como nosso corpo reage em condições extremas. Vale a pena conferir.
Conheça também o Planeta Verde!
Bom passeio!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

SABEDORIA




Vera Chvatal

¨O teólogo Leonardo Boff conta que no intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, na qual ele participava juntamente com o Dalai Lama, ele perguntou:
- "Santidade, qual é a melhor religião?"
Esperava que o Dalai Lama respondesse: -"É o budismo tibetano" ou -"São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo."
Entretanto, o Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, olhou-o bem nos olhos e afirmou: -"A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te faz melhor."
Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, ele voltou a perguntar:
- "O que me faz melhor?"
Respondeu ele:
- "Aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião..."

Para ser sábio é preciso viver, experimentar, amar, respeitar, ver e ouvir a própria vida. É sair de nossa concha e expandir nossa consciência, sem limitações. Viver à beira de acontecimentos novos, sem temer o novo e o desconhecido, simplesmente dando um passo por vez com fé e confiança, acreditando que cada passo nos levará a uma nova vida e a um novo mundo.
Sejamos sábios, vivamos, amemos e compartilhemos o que há de melhor em nossos corações!

quinta-feira, 22 de maio de 2008

MITOS: PARADIGMAS DO SER HUMANO

Vera Chvatal 


Desde pequena sempre gostei de ler, ouvir e contar histórias. Lembro-me bem que os mitos, particularmente, exerciam um grande fascínio sobre mim. Sua veia poética, intuitiva, de falar sobre a vida e a natureza, ajudou-me a elaborar e compreender os acontecimentos de forma muito rica. Era só soltar a imaginação e deixar-me conduzir livremente. Nesses momentos mágicos eu viajava por caminhos e mundos desconhecidos, confiante e sem temor...  Assim sendo, é o que vamos fazer agora ao falar sobre as diversas dimensões do ser humano utilizando alguns mitos gregos. 
Primeiro capítulo: Paraíso ou inferno? A descoberta de si mesmo!
 Imagino que a descoberta do paraíso pelos primeiros seres viventes deste maravilhoso planeta Terra, deu-se no instante em que despertaram de sua inconsciência vivencial e puderam enxergar a beleza do mundo à sua volta. Foi quando se deram conta de que estavam no paraíso. A exuberância da natureza em sua diversidade infinita a tocar-lhe os sentidos, deve tê-los maravilhado com suas cores, sons, cheiros, sabores e sensações levando-os ao êxtase. Experiência crucial, pois, infinitamente prazerosa, mas também assustadoramente aterrorizadora. O conhecimento do poder imensurável que tinham nas mãos, poder de vida e morte, de construir e destruir deve ter-lhes causado tanto prazer quanto dor que, provavelmente, o desejo de retornar à inconsciência deve tê-los dominado violentamente. O ser vivente estava nu!
Desamparados frente às suas emoções e desejos conflitantes, deram-se conta de que ao mesmo tempo em que podiam apreciar a beleza da natureza e dominá-la, também podiam destruí-la, segundo seus impulsos. Tudo estava em suas mãos! Isso deve ter marcado indelevelmente a psique humana, revelando a sua ambigüidade e contradição. O estar nu, a descoberta de que ao mesmo tempo em que podiam descortinar o belo e apreciá-lo, também podiam destruí-lo, deve ter sido uma experiência devastadora. Não estavam ainda preparados para isso. E tiveram que recorrer ao sobrenatural, buscando nos deuses e nos mitos a ajuda necessária para elaborar o conhecimento terrível de seu poder!
Assim, o ser vivente desenvolveu a consciência mítica para explicar a realidade das coisas, do mundo, da vida, utilizando-se da fantasia e da imaginação. E o mito surgiu então a partir de uma verdade intuída, percebida espontaneamente, sem necessidade de provas. Foi a forma encontrada para vivenciar a realidade das coisas, das emoções e da afetividade de forma pré-reflexiva. Isso quer dizer que o mito refere-se sempre a verdades importantes, uma vez que é a forma de “falar sobre o mundo” assentada no desejo humano de dominá-lo e de exorcizar a insegurança, medos e angústias diante do desconhecido, da morte, da destruição de si mesmo e do mundo. A razão, a verdade lógica, discursiva, veio depois, muito depois...
Portanto, como todo o conhecimento acumulado no desenrolar da história da humanidade deixa marcas na psique individual, no mundo contemporâneo podemos pensar nos mitos como paradigmas antropológicos e psicológicos do ser humano. Isso quer dizer que as várias dimensões humanas podem ser compreendidas a partir de um determinado mito. Querem ver? Aguardem os próximos capítulos!

sábado, 17 de maio de 2008

APRENDENDO COM AS BORBOLETAS...


Vera Chvatal

¨Um dia, uma pequena abertura apareceu em um casulo e o homem observou a borboleta, por várias horas, enquanto ela se esforçava  para fazer com que o seu corpo passasse através daquele pequeno buraco.
Então, pareceu que ela parou de fazer qualquer progresso. Parecia que tinha ido  o mais longe que podia e não conseguia fazer mais nada. Então o homem decidiu ajudar a borboleta; ele pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo. E a borboleta, então, saiu facilmente. Mas, seu corpo estava murcho, era pequeno e tinha as asas amassadas.
O homem continuou a observar a borboleta, pois ele esperava que, a qualquer momento, as asas delas se abrissem e esticassem para serem capazes de suportar o corpo, que iria se afirmar com o tempo. Nada aconteceu! Na verdade, a borboleta passou o resto de sua vida rastejando com um corpo murcho e as asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar. 
O que o homem, em sua gentileza e vontade de ajudar não compreendia era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura, foi o modo que a Natureza preparou para que o fluido do corpo da borboleta fosse para suas asas, de modo que ela estaria pronta para voar uma vez que estivesse livre do casulo.¨

Essa pequena história escrita por um autor desconhecido nos dá condições de refletir sobre os obstáculos que temos que enfrentar, as perdas que sofremos, os momentos de tristeza que vivemos e as dores que nos angustiam.  Esses acontecimentos que provocam emoções e sentimentos dolorosos precisam ser elaborados e superados e exigem esforço de nossa parte.
Para voar livremente precisamos amadurecer e, para isso, temos que nos fortalecer enfrentando com coragem, paciência e determinação todos os momentos desagradáveis que nos causam sofrimento. Cecília Meireles, sabiamente poetiza a esse respeito: ¨aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.¨  
Como a fênix temos que renascer sempre e sempre, após cada morte, obstáculo, dificuldade. Renascer para um novo momento, uma nova vida, uma nova paixão... Afinal, parafraseando Carlos Drummond, ¨a felicidade não está em viver, mas em saber viver.¨


Pensamento do mês: Maio/2008

O valor das coisas não está no tempo que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem.
Por isso, existem momentos inesquecíveis,
coisas inexplicáveis e
pessoas incomparáveis.

Fernando Pessoa