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quinta-feira, 22 de maio de 2008

MITOS: PARADIGMAS DO SER HUMANO

Vera Chvatal 


Desde pequena sempre gostei de ler, ouvir e contar histórias. Lembro-me bem que os mitos, particularmente, exerciam um grande fascínio sobre mim. Sua veia poética, intuitiva, de falar sobre a vida e a natureza, ajudou-me a elaborar e compreender os acontecimentos de forma muito rica. Era só soltar a imaginação e deixar-me conduzir livremente. Nesses momentos mágicos eu viajava por caminhos e mundos desconhecidos, confiante e sem temor...  Assim sendo, é o que vamos fazer agora ao falar sobre as diversas dimensões do ser humano utilizando alguns mitos gregos. 
Primeiro capítulo: Paraíso ou inferno? A descoberta de si mesmo!
 Imagino que a descoberta do paraíso pelos primeiros seres viventes deste maravilhoso planeta Terra, deu-se no instante em que despertaram de sua inconsciência vivencial e puderam enxergar a beleza do mundo à sua volta. Foi quando se deram conta de que estavam no paraíso. A exuberância da natureza em sua diversidade infinita a tocar-lhe os sentidos, deve tê-los maravilhado com suas cores, sons, cheiros, sabores e sensações levando-os ao êxtase. Experiência crucial, pois, infinitamente prazerosa, mas também assustadoramente aterrorizadora. O conhecimento do poder imensurável que tinham nas mãos, poder de vida e morte, de construir e destruir deve ter-lhes causado tanto prazer quanto dor que, provavelmente, o desejo de retornar à inconsciência deve tê-los dominado violentamente. O ser vivente estava nu!
Desamparados frente às suas emoções e desejos conflitantes, deram-se conta de que ao mesmo tempo em que podiam apreciar a beleza da natureza e dominá-la, também podiam destruí-la, segundo seus impulsos. Tudo estava em suas mãos! Isso deve ter marcado indelevelmente a psique humana, revelando a sua ambigüidade e contradição. O estar nu, a descoberta de que ao mesmo tempo em que podiam descortinar o belo e apreciá-lo, também podiam destruí-lo, deve ter sido uma experiência devastadora. Não estavam ainda preparados para isso. E tiveram que recorrer ao sobrenatural, buscando nos deuses e nos mitos a ajuda necessária para elaborar o conhecimento terrível de seu poder!
Assim, o ser vivente desenvolveu a consciência mítica para explicar a realidade das coisas, do mundo, da vida, utilizando-se da fantasia e da imaginação. E o mito surgiu então a partir de uma verdade intuída, percebida espontaneamente, sem necessidade de provas. Foi a forma encontrada para vivenciar a realidade das coisas, das emoções e da afetividade de forma pré-reflexiva. Isso quer dizer que o mito refere-se sempre a verdades importantes, uma vez que é a forma de “falar sobre o mundo” assentada no desejo humano de dominá-lo e de exorcizar a insegurança, medos e angústias diante do desconhecido, da morte, da destruição de si mesmo e do mundo. A razão, a verdade lógica, discursiva, veio depois, muito depois...
Portanto, como todo o conhecimento acumulado no desenrolar da história da humanidade deixa marcas na psique individual, no mundo contemporâneo podemos pensar nos mitos como paradigmas antropológicos e psicológicos do ser humano. Isso quer dizer que as várias dimensões humanas podem ser compreendidas a partir de um determinado mito. Querem ver? Aguardem os próximos capítulos!

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