sexta-feira, 26 de agosto de 2016
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
DEMOCRACIA E LIBERDADE
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2016/08/joao-goulart-reformas-e-golpe.html#more
João Goulart, reformas e golpe
Por Emiliano José, na revista Caros Amigos:
Democracia para esses democratas não é o regime da liberdade de reunião para o povo: o que eles querem é uma democracia de povo emudecido, amordaçado nos seus anseios e sufocado nas suas reivindicações.
A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do antissindicalismo, antirreforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos que eles servem ou representam.
A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobras.
É a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais.
É a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício.
O que está ameaçando o regime democrático neste País não é o povo nas praças, não são os trabalhadores reunidos pacificamente para dizer de suas aspirações ou de sua solidariedade às grandes causas nacionais.
Democracia é precisamente isso: o povo livre para manifestar-se, inclusive nas praças públicas, sem que daí possa resultar o mínimo de perigo à segurança das instituições.
Democracia é o que o meu governo vem procurando realizar, como é do seu dever, não só para interpretar os anseios populares, mas também conquistá-los pelos caminhos da legalidade, pelos caminhos do entendimento e da paz social.
Não há ameaça mais séria à democracia do que desconhecer os direitos do povo.
Não há ameaça mais séria à democracia do que tentar estrangular a voz do povo e de seus legítimos líderes, fazendo calar as suas mais sentidas reivindicações.
Estaríamos, sim, ameaçando, o regime se nos mostrássemos surdos aos reclamos da Nação que, de norte a sul, de leste a oeste, levanta o seu grande clamor pelas reformas de estrutura.
Sobretudo pela reforma agrária, que será como complemento da abolição do cativeiro para dezenas de milhões de brasileiros que vegetam no interior em revoltantes condições de miséria.
Ameaça à democracia não é vir confraternizar com o povo na rua.
Ameaça à democracia é empulhar o povo explorando seus sentimentos cristãos, mistificação de uma indústria do anticomunismo, pois tenta levar o povo a se insurgir contra os grandes e luminosos ensinamentos dos últimos Papas que informam notáveis pronunciamentos das expressivas figuras do episcopado brasileiro.
O nosso lema, trabalhadores do Brasil, é “progresso com justiça, e desenvolvimento com igualdade”.
A maioria dos brasileiros já não se conforma com uma ordem social imperfeita, injusta e desumana.
Os milhões que nada têm impacientam-se com a demora, já agora quase insuportável, em receber os dividendos de um progresso tão duramente construído, mas construído também pelos mais humildes.
Brasileiros, a hora é das reformas de estrutura, de métodos, de estilo de trabalho e de objetivo.
Já sabemos que não é mais possível progredir sem reformar.
Que não é mais possível admitir que essa estrutura ultrapassada possa realizar o milagre da salvação nacional para milhões de brasileiros que da portentosa civilização industrial conhecem apenas a vida cara, os sofrimentos e as ilusões passadas.
*****
Quem disse que tais palavras, assim certeiras, diretas, não poderiam ser ditas pela presidenta Dilma nos dias de hoje?
O diagnóstico sobre a desigualdade, a luta pela terra, o ataque à Petrobras, a sanha das grandes empresas nacionais e multinacionais, a utilização do Cristianismo de modo ostensivo pela direita, tudo isso parece adequar-se aos dias atuais, sem tirar nem pôr.
São palavras sacadas do brilhante, intenso, emocionado discurso do presidente João Goulart, no comício da Central do Brasil, dia 13 de março de 1964, nas proximidades do golpe do dia 2 de abril, quando o Congresso Nacional decreta, a seu modo, o impeachment do presidente, sob o argumento de que ele havia abandonado o País.
Goulart, como se sabe hoje, como se sabia então, estava ainda em Porto Alegre, discutindo as possibilidades de resistir à sublevação golpista. Nos golpes, importa pouco a verdade ou a mentira. Estamos vendo isso com toda nitidez, novamente.
À distância, é possível avaliar melhor o papel de Goulart, ele, que durante bom tempo, foi visto como um vacilante, como homem sem coragem e sem clareza de objetivos. Ou, numa vertente mais teórica, como um “populista”, espécie de mantra com que eram classificados os que não se enquadrassem nos conceitos revolucionários predominantes em grandes áreas da esquerda.
Goulart foi um reformista, e aqui apreendendo o melhor sentido do conceito. Na fase final de seu governo, entendeu não ser mais possível a conciliação com as classes dominantes, e resolveu assumir as reformas pelas quais sempre lutara, apoiando-se nas forças de esquerda.
De alguma forma, era um tiro no escuro. Espécie de tudo ou nada. Desde os anos 50, por seu compromisso com os trabalhadores, tornara-se alvo da direita. Getúlio foi obrigado a demiti-lo do Ministério do Trabalho por conta de sua proposta de aumento de 100% do salário mínimo. Assumira o governo em 1961 enfraquecido, sob o fogo da chantagem militar e de adversários do calibre de Carlos Lacerda, que não o queriam presidente de modo nenhum após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961. Fez inteligentemente o acordo do Parlamentarismo, tendo Tancredo Neves como primeiro-ministro para poder assumir. Ganhou de lavada o plebiscito no início de 1963: 9 milhões votando o Presidencialismo, 1 milhão no Parlamentarismo. 1963 seria o ano em que iniciaria as reformas que defendia. Aparentemente, estava forte.
A confrontação por parte da direita vinha já de algum tempo, sem que Goulart provavelmente desse conta dela, ao menos com a gravidade que demonstrará ter à frente. Lacerda, dia 1º de outubro de 1963, dá entrevista ao correspondente no Brasil do Los Angeles Times, Julien Hart, onde, entre tantas coisas, dizia que os militares, em relação a Goulart, debatiam-se se era melhor tutelá-lo, patrociná-lo, pô-lo sob controle ou alijá-lo imediatamente.
Estado de sítio
Goulart, pressionado por alguns militares, propôs o estado de sítio, logo em seguida. Sofreu pressão da direita e da esquerda, esta porque acreditava que a medida podia também atingi-la, Arraes e Brizola entre eles. E a proposta não vingou. Tivesse vingado, prendido Lacerda, como pretendia, usado a força contra a reação – Goulart usava muito o termo reação para designar o campo conservador – e certamente a história seria outra. Quando o estado de sítio foi recusado, Goulart chegou a dizer que ali estava configurada a sua derrota. Era a crônica de um golpe anunciado.
Isolado, Goulart não cede à tentação de render-se à direita, o que era sempre possível, estivesse disposto à conciliação. A chamada “Rede da Legalidade”, fruto de acordo entre Roberto Marinho, Nascimento Brito e João Calmon, colocou todo o seu aparato midiático a serviço do golpe, atividade incrementada a partir do final do segundo semestre de 1963. Massacrava o presidente minuto a minuto, como sempre agiu a mídia hegemônica, ontem como hoje, quando se trata de governo progressista.
Goulart seguia adiante, não mudava de rumo. Pretendia, e sempre reafirmava isso, ser digno do legado de Getúlio, especialmente de seu segundo governo, do qual participou, mesmo quando sacado do Ministério do Trabalho. Estende os benefícios da Previdência Social aos trabalhadores rurais, irritando o latifúndio. Não acreditava mais em conciliação com esse setor. Com tais gestos, vai se reaproximando das esquerdas. Não ouve o canto da sereia dos conservadores. Institui a escala móvel de vencimentos. Determina a revisão das concessões de exploração das jazidas minerais e cancela aquelas que não haviam sido exploradas.
Fiesp e bancos, como sempre
A Federação das Indústrias de São Paulo e os bancos dizem às claras que embarcaram na canoa golpista. Ontem como hoje. Goulart não recua. A 24 de dezembro de 1963, assina o decreto do monopólio da Petrobras na importação de petróleo e derivados, o que desagrada a gregos e troianos do campo conservador, os de cá e de modo especial os EUA e as sete irmãs do petróleo.
Democracia para esses democratas não é o regime da liberdade de reunião para o povo: o que eles querem é uma democracia de povo emudecido, amordaçado nos seus anseios e sufocado nas suas reivindicações.
A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do antissindicalismo, antirreforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos que eles servem ou representam.
A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobras.
É a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais.
É a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício.
O que está ameaçando o regime democrático neste País não é o povo nas praças, não são os trabalhadores reunidos pacificamente para dizer de suas aspirações ou de sua solidariedade às grandes causas nacionais.
Democracia é precisamente isso: o povo livre para manifestar-se, inclusive nas praças públicas, sem que daí possa resultar o mínimo de perigo à segurança das instituições.
Democracia é o que o meu governo vem procurando realizar, como é do seu dever, não só para interpretar os anseios populares, mas também conquistá-los pelos caminhos da legalidade, pelos caminhos do entendimento e da paz social.
Não há ameaça mais séria à democracia do que desconhecer os direitos do povo.
Não há ameaça mais séria à democracia do que tentar estrangular a voz do povo e de seus legítimos líderes, fazendo calar as suas mais sentidas reivindicações.
Estaríamos, sim, ameaçando, o regime se nos mostrássemos surdos aos reclamos da Nação que, de norte a sul, de leste a oeste, levanta o seu grande clamor pelas reformas de estrutura.
Sobretudo pela reforma agrária, que será como complemento da abolição do cativeiro para dezenas de milhões de brasileiros que vegetam no interior em revoltantes condições de miséria.
Ameaça à democracia não é vir confraternizar com o povo na rua.
Ameaça à democracia é empulhar o povo explorando seus sentimentos cristãos, mistificação de uma indústria do anticomunismo, pois tenta levar o povo a se insurgir contra os grandes e luminosos ensinamentos dos últimos Papas que informam notáveis pronunciamentos das expressivas figuras do episcopado brasileiro.
O nosso lema, trabalhadores do Brasil, é “progresso com justiça, e desenvolvimento com igualdade”.
A maioria dos brasileiros já não se conforma com uma ordem social imperfeita, injusta e desumana.
Os milhões que nada têm impacientam-se com a demora, já agora quase insuportável, em receber os dividendos de um progresso tão duramente construído, mas construído também pelos mais humildes.
Brasileiros, a hora é das reformas de estrutura, de métodos, de estilo de trabalho e de objetivo.
Já sabemos que não é mais possível progredir sem reformar.
Que não é mais possível admitir que essa estrutura ultrapassada possa realizar o milagre da salvação nacional para milhões de brasileiros que da portentosa civilização industrial conhecem apenas a vida cara, os sofrimentos e as ilusões passadas.
*****
Quem disse que tais palavras, assim certeiras, diretas, não poderiam ser ditas pela presidenta Dilma nos dias de hoje?
O diagnóstico sobre a desigualdade, a luta pela terra, o ataque à Petrobras, a sanha das grandes empresas nacionais e multinacionais, a utilização do Cristianismo de modo ostensivo pela direita, tudo isso parece adequar-se aos dias atuais, sem tirar nem pôr.
São palavras sacadas do brilhante, intenso, emocionado discurso do presidente João Goulart, no comício da Central do Brasil, dia 13 de março de 1964, nas proximidades do golpe do dia 2 de abril, quando o Congresso Nacional decreta, a seu modo, o impeachment do presidente, sob o argumento de que ele havia abandonado o País.
Goulart, como se sabe hoje, como se sabia então, estava ainda em Porto Alegre, discutindo as possibilidades de resistir à sublevação golpista. Nos golpes, importa pouco a verdade ou a mentira. Estamos vendo isso com toda nitidez, novamente.
À distância, é possível avaliar melhor o papel de Goulart, ele, que durante bom tempo, foi visto como um vacilante, como homem sem coragem e sem clareza de objetivos. Ou, numa vertente mais teórica, como um “populista”, espécie de mantra com que eram classificados os que não se enquadrassem nos conceitos revolucionários predominantes em grandes áreas da esquerda.
Goulart foi um reformista, e aqui apreendendo o melhor sentido do conceito. Na fase final de seu governo, entendeu não ser mais possível a conciliação com as classes dominantes, e resolveu assumir as reformas pelas quais sempre lutara, apoiando-se nas forças de esquerda.
De alguma forma, era um tiro no escuro. Espécie de tudo ou nada. Desde os anos 50, por seu compromisso com os trabalhadores, tornara-se alvo da direita. Getúlio foi obrigado a demiti-lo do Ministério do Trabalho por conta de sua proposta de aumento de 100% do salário mínimo. Assumira o governo em 1961 enfraquecido, sob o fogo da chantagem militar e de adversários do calibre de Carlos Lacerda, que não o queriam presidente de modo nenhum após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961. Fez inteligentemente o acordo do Parlamentarismo, tendo Tancredo Neves como primeiro-ministro para poder assumir. Ganhou de lavada o plebiscito no início de 1963: 9 milhões votando o Presidencialismo, 1 milhão no Parlamentarismo. 1963 seria o ano em que iniciaria as reformas que defendia. Aparentemente, estava forte.
A confrontação por parte da direita vinha já de algum tempo, sem que Goulart provavelmente desse conta dela, ao menos com a gravidade que demonstrará ter à frente. Lacerda, dia 1º de outubro de 1963, dá entrevista ao correspondente no Brasil do Los Angeles Times, Julien Hart, onde, entre tantas coisas, dizia que os militares, em relação a Goulart, debatiam-se se era melhor tutelá-lo, patrociná-lo, pô-lo sob controle ou alijá-lo imediatamente.
Estado de sítio
Goulart, pressionado por alguns militares, propôs o estado de sítio, logo em seguida. Sofreu pressão da direita e da esquerda, esta porque acreditava que a medida podia também atingi-la, Arraes e Brizola entre eles. E a proposta não vingou. Tivesse vingado, prendido Lacerda, como pretendia, usado a força contra a reação – Goulart usava muito o termo reação para designar o campo conservador – e certamente a história seria outra. Quando o estado de sítio foi recusado, Goulart chegou a dizer que ali estava configurada a sua derrota. Era a crônica de um golpe anunciado.
Isolado, Goulart não cede à tentação de render-se à direita, o que era sempre possível, estivesse disposto à conciliação. A chamada “Rede da Legalidade”, fruto de acordo entre Roberto Marinho, Nascimento Brito e João Calmon, colocou todo o seu aparato midiático a serviço do golpe, atividade incrementada a partir do final do segundo semestre de 1963. Massacrava o presidente minuto a minuto, como sempre agiu a mídia hegemônica, ontem como hoje, quando se trata de governo progressista.
Goulart seguia adiante, não mudava de rumo. Pretendia, e sempre reafirmava isso, ser digno do legado de Getúlio, especialmente de seu segundo governo, do qual participou, mesmo quando sacado do Ministério do Trabalho. Estende os benefícios da Previdência Social aos trabalhadores rurais, irritando o latifúndio. Não acreditava mais em conciliação com esse setor. Com tais gestos, vai se reaproximando das esquerdas. Não ouve o canto da sereia dos conservadores. Institui a escala móvel de vencimentos. Determina a revisão das concessões de exploração das jazidas minerais e cancela aquelas que não haviam sido exploradas.
Fiesp e bancos, como sempre
A Federação das Indústrias de São Paulo e os bancos dizem às claras que embarcaram na canoa golpista. Ontem como hoje. Goulart não recua. A 24 de dezembro de 1963, assina o decreto do monopólio da Petrobras na importação de petróleo e derivados, o que desagrada a gregos e troianos do campo conservador, os de cá e de modo especial os EUA e as sete irmãs do petróleo.
Em 17 de janeiro de 1964, outra medida, extremamente ousada: assina a regulamentação final da Lei de Remessa de Lucros para o exterior. Entraria em vigor naquele mês. Os EUA, irritadíssimos. Os golpistas alvoroçados e fortemente articulados, civis e militares. É visível, quando se faz uma retrospectiva, que o campo da esquerda, Goulart incluído, talvez não tivesse consciência mais completa do grau avançado da articulação golpista, mesmo que o desabafo diante da derrota da proposta do estado de sítio indicasse um Goulart relativamente consciente de que podia sofrer um golpe.
Talvez por isso, por saber que não havia mais conciliação possível, que o próprio PSD dava sinais de bandear-se para o campo golpista, aproxima-se mais e mais das esquerdas, sem que estas não estivessem também suficientemente articuladas para resistir à magnitude do golpe que viria, como provado está. E veio o impressionante comício da Central do Brasil.
No comício, dando mais passos à esquerda, Goulart assina decreto, que era, na visão dele, um primeiro passo para a reforma agrária: considera de interesse social para efeito de desapropriação as terras que ladeavam eixos rodoviários, leitos de ferrovias, açudes públicos federais e terras beneficiadas por obras de saneamento da União.
Assina, ainda, a encampação de todas as refinarias de petróleo. Capuava, Ipiranga, Manguinhos, Amazonas e Destilaria Rio Grandense passavam a pertencer ao Estado. Complementava o decreto do monopólio de importação de petróleo e derivados. Reafirmou ao final de seu discurso para mais de 200 mil pessoas a disposição de continuar a lutar pela reforma agrária, reforma tributária, reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, “pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil”.
O impeachment do presidente, feito pelo Congresso, ocorreria na madrugada de 2 de abril, já com tanques nas ruas, numa articulação militar e civil, menos de um mês após o majestoso comício de março.
Darcy Ribeiro diria, com precisão, que Goulart caíra não por seus defeitos, mas por seus méritos. Quisera fazer um governo a favor do povo, dos trabalhadores. Orientou políticas nessa direção. Foi assim com Getúlio. A mesma coisa com Goulart.
Os conservadores brasileiros não suportam nenhuma aragem progressista.
A presidenta Dilma está sendo vítima de uma tentativa de golpe, como se sabe.
Leva também o nome de impeachment.
Não importa que não haja crime.
E isso acontece pela simples razão de que ela e Lula, nos mandatos para o qual foram eleitos, desenvolveram políticas de melhorias na vida dos mais pobres do Brasil, e isso sempre foi insuportável para os conservadores brasileiros, presentes no Congresso, em setores amplos do sistema de Justiça, na mídia hegemônica, e nas classes dominantes desse país, que nunca conseguiram se livrar de suas marcas escravocratas.
Tragédia e farsa
Há momentos em que desconfio de que o Brasil nega a formulação de Marx de que a história não se repete. Que, na primeira vez, o fato histórico ocorre como tragédia. Na segunda, como farsa. Creio que a nossa trajetória desmente essa afirmação. Os golpes têm se sucedido, e são sempre tragédia. Em 1964, a reação foi mínima, os tanques entraram pelo Rio de Janeiro e seguiram país afora, sem praticamente nenhuma oposição. O Congresso referendou a marcha dos tanques. As esquerdas não estavam preparadas. Agora, contra o golpe sem tanques – mídia, sistema de justiça, Congresso Nacional, Fiesp, bancos, classes dominantes – houve rua, houve articulação contrária, mobilizações expressivas, mas os comandantes da operação golpista, as instituições que a comandam, fazem ouvidos de mercador.
Estão surdos ao fato de que condenarão uma inocente. Como sobre vários dos comandantes do golpe pesam acusações de crimes graves, a operação tem também um objetivo adicional, e nada secundário: a partir de seu término, se houver a vitória do golpe, pretendem construir caminhos que os livrem de qualquer punição, o que não é nada improvável face à natureza seletiva do sistema de Justiça.
Espera-se que nessas próximas horas, cresça a mobilização popular de modo a pressionar o Congresso Nacional, e evitar que se condene uma inocente.
O que essa tentativa de impeachment quer é retirar os direitos dos trabalhadores, cessar a distribuição de renda iniciada nesses 13 anos de governos sob a hegemonia do Partido dos Trabalhadores, criminalizar o campo progressista e impedir a candidatura de Lula em 2018.
A hora decisiva está chegando. E às forças populares só restam às ruas. Não temos que desprezar nada, nenhuma articulação no Senado deve ser desconsiderada. Mas, definitivamente, as mudanças de voto que possam beneficiar Dilma só virão da pressão popular, das ruas do Brasil.
Talvez por isso, por saber que não havia mais conciliação possível, que o próprio PSD dava sinais de bandear-se para o campo golpista, aproxima-se mais e mais das esquerdas, sem que estas não estivessem também suficientemente articuladas para resistir à magnitude do golpe que viria, como provado está. E veio o impressionante comício da Central do Brasil.
No comício, dando mais passos à esquerda, Goulart assina decreto, que era, na visão dele, um primeiro passo para a reforma agrária: considera de interesse social para efeito de desapropriação as terras que ladeavam eixos rodoviários, leitos de ferrovias, açudes públicos federais e terras beneficiadas por obras de saneamento da União.
Assina, ainda, a encampação de todas as refinarias de petróleo. Capuava, Ipiranga, Manguinhos, Amazonas e Destilaria Rio Grandense passavam a pertencer ao Estado. Complementava o decreto do monopólio de importação de petróleo e derivados. Reafirmou ao final de seu discurso para mais de 200 mil pessoas a disposição de continuar a lutar pela reforma agrária, reforma tributária, reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, “pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil”.
O impeachment do presidente, feito pelo Congresso, ocorreria na madrugada de 2 de abril, já com tanques nas ruas, numa articulação militar e civil, menos de um mês após o majestoso comício de março.
Darcy Ribeiro diria, com precisão, que Goulart caíra não por seus defeitos, mas por seus méritos. Quisera fazer um governo a favor do povo, dos trabalhadores. Orientou políticas nessa direção. Foi assim com Getúlio. A mesma coisa com Goulart.
Os conservadores brasileiros não suportam nenhuma aragem progressista.
A presidenta Dilma está sendo vítima de uma tentativa de golpe, como se sabe.
Leva também o nome de impeachment.
Não importa que não haja crime.
E isso acontece pela simples razão de que ela e Lula, nos mandatos para o qual foram eleitos, desenvolveram políticas de melhorias na vida dos mais pobres do Brasil, e isso sempre foi insuportável para os conservadores brasileiros, presentes no Congresso, em setores amplos do sistema de Justiça, na mídia hegemônica, e nas classes dominantes desse país, que nunca conseguiram se livrar de suas marcas escravocratas.
Tragédia e farsa
Há momentos em que desconfio de que o Brasil nega a formulação de Marx de que a história não se repete. Que, na primeira vez, o fato histórico ocorre como tragédia. Na segunda, como farsa. Creio que a nossa trajetória desmente essa afirmação. Os golpes têm se sucedido, e são sempre tragédia. Em 1964, a reação foi mínima, os tanques entraram pelo Rio de Janeiro e seguiram país afora, sem praticamente nenhuma oposição. O Congresso referendou a marcha dos tanques. As esquerdas não estavam preparadas. Agora, contra o golpe sem tanques – mídia, sistema de justiça, Congresso Nacional, Fiesp, bancos, classes dominantes – houve rua, houve articulação contrária, mobilizações expressivas, mas os comandantes da operação golpista, as instituições que a comandam, fazem ouvidos de mercador.
Estão surdos ao fato de que condenarão uma inocente. Como sobre vários dos comandantes do golpe pesam acusações de crimes graves, a operação tem também um objetivo adicional, e nada secundário: a partir de seu término, se houver a vitória do golpe, pretendem construir caminhos que os livrem de qualquer punição, o que não é nada improvável face à natureza seletiva do sistema de Justiça.
Espera-se que nessas próximas horas, cresça a mobilização popular de modo a pressionar o Congresso Nacional, e evitar que se condene uma inocente.
O que essa tentativa de impeachment quer é retirar os direitos dos trabalhadores, cessar a distribuição de renda iniciada nesses 13 anos de governos sob a hegemonia do Partido dos Trabalhadores, criminalizar o campo progressista e impedir a candidatura de Lula em 2018.
A hora decisiva está chegando. E às forças populares só restam às ruas. Não temos que desprezar nada, nenhuma articulação no Senado deve ser desconsiderada. Mas, definitivamente, as mudanças de voto que possam beneficiar Dilma só virão da pressão popular, das ruas do Brasil.
terça-feira, 2 de agosto de 2016
A ESCANDALOSA FALTA DE ÉTICA NO BRASIL
Por Leonardo Boff, em seu blog:
O país, sob qualquer ângulo que o considerarmos, é contaminado por
uma espantosa falta de ética. O bem é só bom quando é um bem para
mim e para os outros; não é um valor buscado e vivido por si mesmo;
mas o que predomina é a esperteza, o dar-se bem, o ser espertinho, o
jeitinho e a lei de Gerson.
Os vários escândalos que se deram a conhecer, revelam um falta de
consciência ética alarmante. Diria, sem exagero, que o corpo social
brasileiro está de tal maneira putrefato que onde quer que aconteça
algum pequeno arranhão já mostra sua purulência.
A falta de ética se revela nas mínimas coisas, desde as mentirinhas
ditas em casa aos pais, a cola na escola ou nos concursos, o suborno
de agentes da polícia rodoviária quando alguém é surpreendido numa
infração de trânsito, desviar dinheiros públicos, beneficiar-se de cargos, enganar nos preços, em jogar lixo na calçada e até em fazer pipi na rua.
Essa falta generalizada de ética deita raízes em nossa pré-história. É uma consequência perversa do que foi a colonização. Ela impôs ao colonizado
a submissão, a total dependência à vontade do outro e a renúncia a ter
a sua própria vida. Estava entregue ao arbítrio do invasor. Para escapar
da punição, se obrigava a mentir, a esconder intenções e a fingir. Isso
levava a uma corrupção da mente. A ética da submissão e do medo leva fatalmente a uma ruptura com a ética (cf. J. Le Goff, O medo no
Ocidente), quer dizer, começa a faltar com a verdade, a nunca poder
ser transparente e, quando pode, prejudica seu opressor. O colonizado
se obrigou, como forma de sobrevivência, a mentir e a encontrar um
“jeitinho” de burlar a vontade do senhor. A Casa Grande e a Senzala são
um nicho, produtor de falta de ética: pela relação desigual de senhor e de escravo. O ethos do senhor é profundamente anti-ético: ele pode dispor
do outro como quiser pois é apenas uma “peça” como se dizia, a todo
momento estava pronto a abusar sexualmente das escravas e a vender
seus filhos pequenos para que não tivessem apego a eles. Nada de mais
cruel, anti-ético e perverso do que a destruição dos laços de mãe e filhos.
Esse tipo de ética desumana criou hábitos e práticas que, de uma forma
ou de outra, continuam,no inconsciente coletivo de nossa sociedade.
A abolição da escravatura ocasionou uma maldade ética imperdoável: alforiaram-se os escravos, mas sem fornecer-lhes um pedacinho de terra,
uma casinha e um instrumento de trabalho. Foram lançados diretamente
na favela. E hoje por causa de sua cor e pobreza são discriminados,
humilhados e as primeiras vítimas da violência policial e social.
A situação, em sua estrutura, não mudou com a República. Os antigos
senhores coloniais foram substituídos pelos coronéis e senhores de
grandes fazendas e capitães da indústria. Aí as pessoas eram ultra-
exploradas e feitas totalmente dependentes. Os comportamentos não
eram éticos no sentido do respeito mínimo às pessoas e à garantia de
seus direitos básicos. A relação era de medo e de uso de violência ou
repressão. Foram feitos carvão para a produção como costumava
dizer Darcy Ribeiro.
As relações de produção capitalista (em si altamente questionáveis
eticamente pela relação desigual entre capital e trabalho) que se
introduziram no Brasil pelo processo de industrializção e modernização
foram selvagens. Nosso capitalismo nunca foi civilizado pois nunca foi
possível uma verdadeira luta de classes (que tem suas regras), no sentido
de equilibrar os interesses antagônicos. Ele guardou sua voracidade de acumulação como nas origens no século XVIII e XIX o que se vê
claramente no sistema bancário atual, cujas taxas de juros são das
mais altas do mundo e os lucros exorbitantes.
A exploração impiedosa da força de trabalho, os baixos salários são
situações eticamente malévolas pelo grau de desumanidade e de
injustiça que encerram impondo privações e muito sofrimento às
famílias.
Como superar essa situação que nos envergonha? Ela dura séculos e
foi praticamente naturalizada. Como ouvi de uma pessoa ilustrada que
acusava como corrupto um politico honrado que eu defendia. Sua
resposta foi típica: se roubou foi esperto e se não roubou foi um bobo.
Assim não dá…
Antes de fazer qualquer sugestão minima, importa fazer uma auto-crítica.
Que educação deram as centenas de escolas católicas e cristas e as 16 universidades católicas (pontifícias ou não) a seus estudantes? Bastava
terem-lhe ensinado o mínimo da mensagem de Jesus de amor aos
pobres contra sua pobreza e comprometê-los em mudanças necessárias
para que sua situação hoje fosse menos malvada.
Elas se transformaram, em boa parte, nem todas, em chocadeiras dos opressores. De lá sairam diretores de empresas exploradores,
economistas de um liberalismo feroz e funcionários públicos sem
senso do bem comum, Segundo o motto estabelecido: “o que é de
todos não é de ninguém, portanto, posso me apropriar dele
tranquilamente”.
A catequese foi doutrinalesca, interessada mais na reta doutrina e menos
no reto comportamento. Criou-se um cristianismo cultural que até
prescinde da fé. Não foi um cristianismo de fé comprometida com a
justiça social e com o destino das grandes maiorias pobres e
discriminadas.
Como é possível que num país majoritariamente cristão vigore tanta
injustiça, insensibilidade, discriminação social e humilhação de
negros e pobres? Alguma coisa errada ocorreu em nossos processos
de transmissão da mensagem libertadora e humanizadora de Jesus
a ponto de os corruptos e corruptores cristãos, quase todos cristãos,
sequer terem a má consciência do que fazem. É a resposta que o
deputado Severino Cavalcanti, cassado de seu mandato por
corrupção, deu a alguém que lhe perguntou se ia se suicidar:
“não me suicido porque sou cristão”. Que signfificou para ele o fato
de ser cristão? Nada.
Por isso, os que sairam das escolas cristãs não se distinguiramk pela
incidência social numa perspectiva de transformação. São antes pela manutenção do status quo do que por mudanças.
Nem por isso queremos olvidar nomes notáveis em vários estratos
sociais para os quas o cristianismo foi uma escola de humanização e de
compromisso com a sorte dos mais vulneráveis. Infelizmente não foram
eles que definiram o rumo de nossa história de corrupção.
Para superarmos a crise da ética não bastam apelos moralizantes,
sempre tão fáceis, mas uma transformação da sociedade. Antes de
ser ética, a questão é política, pois esta, a política, é estruturada em
relações profundamente anti-éticas.
Já faríamos muito se assumíssemos a pregação do primo de Jesus,
seu precursos, São João Batista. Aos que lhe perguntavam o que
deviam fazer, respondia:”Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem
não tem nenhuma, e o mesmo faça a quem não tem alimentos”.
Traduzindo para a nossa situação seria: “seja solidário e não deixe
de ajudar os mais necessitados”. Aos cobradores de impostos
lhes dizia:” Não exija mais do que a taxa definida”. À polícia
respondia:”não pratiques torturas nem chantagens contra
ninguém (delação premiada?) e contente-se com seu salário.”
Deixando para trás o permanente valor da mensagem ética de
João Batista,diria para ser brevíssimo: tudo deve começar pela
família. Criar caráter (um dos sentidos de ética) nos filhos e filhas,
formá-los na busca do bem e da verdade para não se deixarem
seduzir pela lei de Gerson e evitar, sistematicamente, o jeitinho.
Princípio básico de toda e qualquer ética: tratar sempre
humanamente a cada ser humano.
Tomar absolutamente sério a lei áurea que é testemunhada em
todas as tradições culturais e religiosas: “não faça ao outro o que
não quer que te façam a ti”. Ou “ame o próximo como a ti mesmo”
que na versão do evangelho de São Jão e de São Francisco é assim traduzida:”ame o outro mais que a ti mesmo”; “que eu procure mais
consolar que ser consolado, mais compreender do que ser
compreendido, mais amar do que ser amado.”
Siga o preceito de Kant: que o princípio que te leva fazer o bem, seja
válido também para os outros. Oriente-se pelos dez mandamentos,
escritos na Bíblia como forma de ordenar a vida social do Povo de Deus
e, que no fundo, são universalmente válidos. Traduzidos para hoje:
o “não matar” significa, venere a vida, cultive uma cultura da não
violência. O “não roubar”: aja com justiça e correção e lute por
uma ordem econômica justa. O “não cometer adultério”: amem-se
e respeitem-se mutuamene, e obriguem-se a uma cultura da
igualdade e pareceria entre o homem e a mulher. Isso é o mínimo que poderíamos fazer para arejar um pouco a
atmosfera ética de nosso país.
Repetindo o grande Aristóteles, o mestre da ética ocidental:
”não refletimos para saber o que seja a ética, mas para tornarmo-nos
pessoas éticas”.
O país, sob qualquer ângulo que o considerarmos, é contaminado por
uma espantosa falta de ética. O bem é só bom quando é um bem para
mim e para os outros; não é um valor buscado e vivido por si mesmo;
mas o que predomina é a esperteza, o dar-se bem, o ser espertinho, o
jeitinho e a lei de Gerson.
Os vários escândalos que se deram a conhecer, revelam um falta de
consciência ética alarmante. Diria, sem exagero, que o corpo social
brasileiro está de tal maneira putrefato que onde quer que aconteça
algum pequeno arranhão já mostra sua purulência.
A falta de ética se revela nas mínimas coisas, desde as mentirinhas
ditas em casa aos pais, a cola na escola ou nos concursos, o suborno
de agentes da polícia rodoviária quando alguém é surpreendido numa
infração de trânsito, desviar dinheiros públicos, beneficiar-se de cargos, enganar nos preços, em jogar lixo na calçada e até em fazer pipi na rua.
Essa falta generalizada de ética deita raízes em nossa pré-história. É uma consequência perversa do que foi a colonização. Ela impôs ao colonizado
a submissão, a total dependência à vontade do outro e a renúncia a ter
a sua própria vida. Estava entregue ao arbítrio do invasor. Para escapar
da punição, se obrigava a mentir, a esconder intenções e a fingir. Isso
levava a uma corrupção da mente. A ética da submissão e do medo leva fatalmente a uma ruptura com a ética (cf. J. Le Goff, O medo no
Ocidente), quer dizer, começa a faltar com a verdade, a nunca poder
ser transparente e, quando pode, prejudica seu opressor. O colonizado
se obrigou, como forma de sobrevivência, a mentir e a encontrar um
“jeitinho” de burlar a vontade do senhor. A Casa Grande e a Senzala são
um nicho, produtor de falta de ética: pela relação desigual de senhor e de escravo. O ethos do senhor é profundamente anti-ético: ele pode dispor
do outro como quiser pois é apenas uma “peça” como se dizia, a todo
momento estava pronto a abusar sexualmente das escravas e a vender
seus filhos pequenos para que não tivessem apego a eles. Nada de mais
cruel, anti-ético e perverso do que a destruição dos laços de mãe e filhos.
Esse tipo de ética desumana criou hábitos e práticas que, de uma forma
ou de outra, continuam,no inconsciente coletivo de nossa sociedade.
A abolição da escravatura ocasionou uma maldade ética imperdoável: alforiaram-se os escravos, mas sem fornecer-lhes um pedacinho de terra,
uma casinha e um instrumento de trabalho. Foram lançados diretamente
na favela. E hoje por causa de sua cor e pobreza são discriminados,
humilhados e as primeiras vítimas da violência policial e social.
A situação, em sua estrutura, não mudou com a República. Os antigos
senhores coloniais foram substituídos pelos coronéis e senhores de
grandes fazendas e capitães da indústria. Aí as pessoas eram ultra-
exploradas e feitas totalmente dependentes. Os comportamentos não
eram éticos no sentido do respeito mínimo às pessoas e à garantia de
seus direitos básicos. A relação era de medo e de uso de violência ou
repressão. Foram feitos carvão para a produção como costumava
dizer Darcy Ribeiro.
As relações de produção capitalista (em si altamente questionáveis
eticamente pela relação desigual entre capital e trabalho) que se
introduziram no Brasil pelo processo de industrializção e modernização
foram selvagens. Nosso capitalismo nunca foi civilizado pois nunca foi
possível uma verdadeira luta de classes (que tem suas regras), no sentido
de equilibrar os interesses antagônicos. Ele guardou sua voracidade de acumulação como nas origens no século XVIII e XIX o que se vê
claramente no sistema bancário atual, cujas taxas de juros são das
mais altas do mundo e os lucros exorbitantes.
A exploração impiedosa da força de trabalho, os baixos salários são
situações eticamente malévolas pelo grau de desumanidade e de
injustiça que encerram impondo privações e muito sofrimento às
famílias.
Como superar essa situação que nos envergonha? Ela dura séculos e
foi praticamente naturalizada. Como ouvi de uma pessoa ilustrada que
acusava como corrupto um politico honrado que eu defendia. Sua
resposta foi típica: se roubou foi esperto e se não roubou foi um bobo.
Assim não dá…
Antes de fazer qualquer sugestão minima, importa fazer uma auto-crítica.
Que educação deram as centenas de escolas católicas e cristas e as 16 universidades católicas (pontifícias ou não) a seus estudantes? Bastava
terem-lhe ensinado o mínimo da mensagem de Jesus de amor aos
pobres contra sua pobreza e comprometê-los em mudanças necessárias
para que sua situação hoje fosse menos malvada.
Elas se transformaram, em boa parte, nem todas, em chocadeiras dos opressores. De lá sairam diretores de empresas exploradores,
economistas de um liberalismo feroz e funcionários públicos sem
senso do bem comum, Segundo o motto estabelecido: “o que é de
todos não é de ninguém, portanto, posso me apropriar dele
tranquilamente”.
A catequese foi doutrinalesca, interessada mais na reta doutrina e menos
no reto comportamento. Criou-se um cristianismo cultural que até
prescinde da fé. Não foi um cristianismo de fé comprometida com a
justiça social e com o destino das grandes maiorias pobres e
discriminadas.
Como é possível que num país majoritariamente cristão vigore tanta
injustiça, insensibilidade, discriminação social e humilhação de
negros e pobres? Alguma coisa errada ocorreu em nossos processos
de transmissão da mensagem libertadora e humanizadora de Jesus
a ponto de os corruptos e corruptores cristãos, quase todos cristãos,
sequer terem a má consciência do que fazem. É a resposta que o
deputado Severino Cavalcanti, cassado de seu mandato por
corrupção, deu a alguém que lhe perguntou se ia se suicidar:
“não me suicido porque sou cristão”. Que signfificou para ele o fato
de ser cristão? Nada.
Por isso, os que sairam das escolas cristãs não se distinguiramk pela
incidência social numa perspectiva de transformação. São antes pela manutenção do status quo do que por mudanças.
Nem por isso queremos olvidar nomes notáveis em vários estratos
sociais para os quas o cristianismo foi uma escola de humanização e de
compromisso com a sorte dos mais vulneráveis. Infelizmente não foram
eles que definiram o rumo de nossa história de corrupção.
Para superarmos a crise da ética não bastam apelos moralizantes,
sempre tão fáceis, mas uma transformação da sociedade. Antes de
ser ética, a questão é política, pois esta, a política, é estruturada em
relações profundamente anti-éticas.
Já faríamos muito se assumíssemos a pregação do primo de Jesus,
seu precursos, São João Batista. Aos que lhe perguntavam o que
deviam fazer, respondia:”Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem
não tem nenhuma, e o mesmo faça a quem não tem alimentos”.
Traduzindo para a nossa situação seria: “seja solidário e não deixe
de ajudar os mais necessitados”. Aos cobradores de impostos
lhes dizia:” Não exija mais do que a taxa definida”. À polícia
respondia:”não pratiques torturas nem chantagens contra
ninguém (delação premiada?) e contente-se com seu salário.”
Deixando para trás o permanente valor da mensagem ética de
João Batista,diria para ser brevíssimo: tudo deve começar pela
família. Criar caráter (um dos sentidos de ética) nos filhos e filhas,
formá-los na busca do bem e da verdade para não se deixarem
seduzir pela lei de Gerson e evitar, sistematicamente, o jeitinho.
Princípio básico de toda e qualquer ética: tratar sempre
humanamente a cada ser humano.
Tomar absolutamente sério a lei áurea que é testemunhada em
todas as tradições culturais e religiosas: “não faça ao outro o que
não quer que te façam a ti”. Ou “ame o próximo como a ti mesmo”
que na versão do evangelho de São Jão e de São Francisco é assim traduzida:”ame o outro mais que a ti mesmo”; “que eu procure mais
consolar que ser consolado, mais compreender do que ser
compreendido, mais amar do que ser amado.”
Siga o preceito de Kant: que o princípio que te leva fazer o bem, seja
válido também para os outros. Oriente-se pelos dez mandamentos,
escritos na Bíblia como forma de ordenar a vida social do Povo de Deus
e, que no fundo, são universalmente válidos. Traduzidos para hoje:
o “não matar” significa, venere a vida, cultive uma cultura da não
violência. O “não roubar”: aja com justiça e correção e lute por
uma ordem econômica justa. O “não cometer adultério”: amem-se
e respeitem-se mutuamene, e obriguem-se a uma cultura da
igualdade e pareceria entre o homem e a mulher. Isso é o mínimo que poderíamos fazer para arejar um pouco a
atmosfera ética de nosso país.
Repetindo o grande Aristóteles, o mestre da ética ocidental:
”não refletimos para saber o que seja a ética, mas para tornarmo-nos
pessoas éticas”.
MOÇA, SEU CLITÓRIS É PODER
Palmira Margarida
: Notas Perfumadas
28 • 07 • 2016 | por Palmira Margarida
Hoje, o papo vai ser reto: constata-se que muita gente não gosta de clitóris
e me parece que essa história é antiga. Tem mulher que tem vergonha,
tem moça doida para mexer nele, mas sente culpa, outras nunca olharam
lá e devem estar lendo este artigo com sobrancelhas arqueadas.
Miga, não fica chocada comigo e muito menos contigo, caso nunca tenha
trocado um papo reto com a sua vulva. A culpa não é sua. A sociedade
nos educa para odiarmos os nossos corpos femininos e para termos
vergonha de nossos mamilos, vaginas, dobrinhas, curvas, enfim, tudo!
Ser mulher é uma vergonha, né? Falar de “pepeka” nem pensar,
o clitóris, então, é a blasfêmia. A zoeira histórica e científica com
nossos corpos de fêmeas foi tanta que hoje, em pleno século XXI,
a gente ainda fica cheia de pudor para tocar nesse assunto,
literalmente! A mulher é ensinada a não ter contato com o próprio
corpo. A (nome da caixa de Pandora onde estão guardados todos
os males do mundo) é o portal para fora do paraíso e o clitóris,
um aparato de conexão com as forças do mal. Este panorama foi
estruturado, por um lado, por instituições religiosas, por outro,
pela ciência. A primeira, que atinando para o prazer feminino
como forma de poder, tacha a mulher dotada de autonomia sobre
o próprio corpo como um ser bestial. A segunda, impregnada de
misoginia desde seu início, não via como importante um órgão que
servia apenas para conceder prazer à mulher, relegando-o às páginas
de anatomia e omitindo-o dos círculos de temas importantes, sempre
tratando nosso órgão do prazer (hoje, eu prefiro nomeá-lo “órgão
da saúde”) como um apêndice ou algo menos, afinal, apêndice ainda
serve para dar apendicite, enquanto clitóris não serve para nada, né?!
Bom, moça, tempo passou e todas nós continuamos nascendo com
clitóris, esse órgão que “não serve para nada”. Alto lá! Não serve
para quem? Para você serve e muito, tenha certeza! No entanto,
tem homem que não gosta, que não sabe para que serve, muito
menos qual a importância dele. Na verdade, eles nem sabem onde
fica o tal ser diabólico, amoral e tentador, esse tal de clitóris.
Alguns que sabem fazem questão de mutilar algumas de nós,
com pedaços de vidro ou um metal qualquer que catou-se no chão*.
Muitas meninas morrem quando têm seus clitóris arrancados e
não estou falando de morte física (apesar de muitas morrerem no
processo), mas de morte da alma e da dignidade. Outras, têm seus
clitóris diminuídos, através de cirurgias reparadoras, agora não
por uma instituição religiosa, mas pela ciência médica que, pasme,
se acha no direito de ditar o que é um clitóris normal ou não.
Bem, moças, pelo que eu saiba existem pintos pequenos, grandes,
muito grandes, micropênis e nunca ouvi falar de um médico que
tenha impelido seu paciente a cortar metade do pênis porque
era grande demais. E aos que dizem que a internet está cheia de
sites com truques mágicos para aumentar um pênis pequeno,
atenção, não se trata de uma medicina invasiva dizendo que um
órgão de seu corpo é anormal e inaceitável para viver em
sociedade, e sim, entende-se, apenas, ser ego de macho. No rastro
da história, o clitóris sempre foi coadjuvante no filme da vida!
Talvez, uma única vez ele quase tenha chegado ao papel
principal. Foi na Grécia antiga, quando Hipócrates achou
que o clitóris fabricava um tipo de esperma, assim como o
pênis, fundamental para a mulher engravidar. Ou seja, para
ficarmos grávidas, precisaríamos ter orgasmos a fim de que tal
esperma fosse liberado pelo clitóris. O tempo passou, a Idade
Média fez vista grossa, afinal, as bestas precisavam de orgasmos
para procriar, então, tudo bem, pelo menos serve para isso! Mas,
ainda entendendo a mulher como um ser demoníaco, egoísta e que
precisava ter prazer a qualquer custo. Entenda, o prazer da mulher
por ela mesma não estava liberado, era permitido apenas para a
reprodução (para liberar o tal esperma feminino) e masturbar-se
era pecado. A primeira pessoa no mundo ocidental que escreveu
sobre clitóris foi o anatomista Ronaldo Columbus (no século XVI)
e chamou o órgão de “cidade do amor”. Antes e depois dele,
alguns outros homens comentaram sobre a genitália da mulher,
porém sempre comparando nossos corpos com os masculinos e
sustentando a ideia de que nossa vulva era um “pênis triste”, um
órgão masculino incompleto, defeituoso ou inferior. É por essas e
outras que, para descontrair, gosto de falar “A clitóris”, mesmo
sabendo que o certo é “O clitóris”, sujeitando a palavra ao órgão.
Mas minha vulva é meio anarquista, então, gosto de falar
“minha clitóris” e não “meu clitóris”.
Entre os séculos XIX e XX (século XX, minas, tipo, ontem!) o
clitóris ainda era tímido na Gray’s Anatomy e o que corroborou
muito para isto foi o médico Van Beneden descobrir, em 1875,
que gravidez nada tinha a ver com o prazer da mulher. Ou seja,
se o clitóris não era mais útil à reprodução, então não era mais
necessário falar sobre ele. Aliás, um tal Dr Baker Brown, em
Londres, apresentou à sociedade, a hipótese de mulheres serem
‘’nervosas e histéricas’’ por culpa do clitóris, portanto, o mesmo
deveria ser cortado, prática que perdurou até a década de 1920.
Então, imagina a cena: a mulher emite uma opinião qualquer
em casa, o marido leva ao médico e diz “doutor, essa mulher
está histérica” e o médico responde “ok, vamos cortar o clitóris
dela e logo ela ficará calminha’’.
Precisou passar todo o século XX para uma anatomista mulher
indignar-se, claro, resolver colocar a mão no clitóris e
desvendá-lo. Hellen O’Connell descobriu que o órgão pode chegar
até oito centímetros, que apresenta o dobro de terminações
nervosas de um pênis e, o melhor, ele está associado a todo o
organismo feminino. Ou seja, se esse pequeno órgão faz ligação
com todo o nosso corpo, isso significa que o prazer proporcionado
por ele interfere, positivamente, em nossa saúde física, mental
e emocional. É melhor que Rivotril! Por isso, iniciei essa trilogia
com o tema masturbação feminina, já que algumas cientistas
começam a apontar essa prática como um hábito saudável
para todas nós. Moça, seu clitóris tem poder! No próximo e
último artigo da Trilogia do Clitóris, veremos os benefícios
da masturbação autônoma feminina, além de práticas atuais
sobre o tema, desenvolvidas por mulheres ao redor do mundo.
*A prática da retirada do clitóris, apesar de ser considerada
um ato contra a dignidade da pessoa humana, ainda é
praticada em algumas partes do mundo por questões religiosas
ou estéticas.
Palmira Margarida é historiadora e atualmente é doutoranda na UFRJ.
Pesquisa sobre neurociências, os cheiros e as emoções. Estuda
também neurobiologia das plantas e é a pisciana mais ariana de que se
tem conhecimento. Descende de italianos e adora uma massa,
mas fala sem gesticular. Ama viajar e captar os aromas das trilhas,
das culturas e das ideias. Está em busca do profundo perfume do Ser.
Escreve neste espaço às quintas-feiras. Para informações sobre
seu trabalho com aromas na Casa Alquímica, entre em contato
pelo e-mail:palmira.margarida@revistavertigem.com
e me parece que essa história é antiga. Tem mulher que tem vergonha,
tem moça doida para mexer nele, mas sente culpa, outras nunca olharam
lá e devem estar lendo este artigo com sobrancelhas arqueadas.
Miga, não fica chocada comigo e muito menos contigo, caso nunca tenha
trocado um papo reto com a sua vulva. A culpa não é sua. A sociedade
nos educa para odiarmos os nossos corpos femininos e para termos
vergonha de nossos mamilos, vaginas, dobrinhas, curvas, enfim, tudo!
Ser mulher é uma vergonha, né? Falar de “pepeka” nem pensar,
o clitóris, então, é a blasfêmia. A zoeira histórica e científica com
nossos corpos de fêmeas foi tanta que hoje, em pleno século XXI,
a gente ainda fica cheia de pudor para tocar nesse assunto,
literalmente! A mulher é ensinada a não ter contato com o próprio
corpo. A (nome da caixa de Pandora onde estão guardados todos
os males do mundo) é o portal para fora do paraíso e o clitóris,
um aparato de conexão com as forças do mal. Este panorama foi
estruturado, por um lado, por instituições religiosas, por outro,
pela ciência. A primeira, que atinando para o prazer feminino
como forma de poder, tacha a mulher dotada de autonomia sobre
o próprio corpo como um ser bestial. A segunda, impregnada de
misoginia desde seu início, não via como importante um órgão que
servia apenas para conceder prazer à mulher, relegando-o às páginas
de anatomia e omitindo-o dos círculos de temas importantes, sempre
tratando nosso órgão do prazer (hoje, eu prefiro nomeá-lo “órgão
da saúde”) como um apêndice ou algo menos, afinal, apêndice ainda
serve para dar apendicite, enquanto clitóris não serve para nada, né?!
Bom, moça, tempo passou e todas nós continuamos nascendo com
clitóris, esse órgão que “não serve para nada”. Alto lá! Não serve
para quem? Para você serve e muito, tenha certeza! No entanto,
tem homem que não gosta, que não sabe para que serve, muito
menos qual a importância dele. Na verdade, eles nem sabem onde
fica o tal ser diabólico, amoral e tentador, esse tal de clitóris.
Alguns que sabem fazem questão de mutilar algumas de nós,
com pedaços de vidro ou um metal qualquer que catou-se no chão*.
Muitas meninas morrem quando têm seus clitóris arrancados e
não estou falando de morte física (apesar de muitas morrerem no
processo), mas de morte da alma e da dignidade. Outras, têm seus
clitóris diminuídos, através de cirurgias reparadoras, agora não
por uma instituição religiosa, mas pela ciência médica que, pasme,
se acha no direito de ditar o que é um clitóris normal ou não.
Bem, moças, pelo que eu saiba existem pintos pequenos, grandes,
muito grandes, micropênis e nunca ouvi falar de um médico que
tenha impelido seu paciente a cortar metade do pênis porque
era grande demais. E aos que dizem que a internet está cheia de
sites com truques mágicos para aumentar um pênis pequeno,
atenção, não se trata de uma medicina invasiva dizendo que um
órgão de seu corpo é anormal e inaceitável para viver em
sociedade, e sim, entende-se, apenas, ser ego de macho. No rastro
da história, o clitóris sempre foi coadjuvante no filme da vida!
Talvez, uma única vez ele quase tenha chegado ao papel
principal. Foi na Grécia antiga, quando Hipócrates achou
que o clitóris fabricava um tipo de esperma, assim como o
pênis, fundamental para a mulher engravidar. Ou seja, para
ficarmos grávidas, precisaríamos ter orgasmos a fim de que tal
esperma fosse liberado pelo clitóris. O tempo passou, a Idade
Média fez vista grossa, afinal, as bestas precisavam de orgasmos
para procriar, então, tudo bem, pelo menos serve para isso! Mas,
ainda entendendo a mulher como um ser demoníaco, egoísta e que
precisava ter prazer a qualquer custo. Entenda, o prazer da mulher
por ela mesma não estava liberado, era permitido apenas para a
reprodução (para liberar o tal esperma feminino) e masturbar-se
era pecado. A primeira pessoa no mundo ocidental que escreveu
sobre clitóris foi o anatomista Ronaldo Columbus (no século XVI)
e chamou o órgão de “cidade do amor”. Antes e depois dele,
alguns outros homens comentaram sobre a genitália da mulher,
porém sempre comparando nossos corpos com os masculinos e
sustentando a ideia de que nossa vulva era um “pênis triste”, um
órgão masculino incompleto, defeituoso ou inferior. É por essas e
outras que, para descontrair, gosto de falar “A clitóris”, mesmo
sabendo que o certo é “O clitóris”, sujeitando a palavra ao órgão.
Mas minha vulva é meio anarquista, então, gosto de falar
“minha clitóris” e não “meu clitóris”.
Entre os séculos XIX e XX (século XX, minas, tipo, ontem!) o
clitóris ainda era tímido na Gray’s Anatomy e o que corroborou
muito para isto foi o médico Van Beneden descobrir, em 1875,
que gravidez nada tinha a ver com o prazer da mulher. Ou seja,
se o clitóris não era mais útil à reprodução, então não era mais
necessário falar sobre ele. Aliás, um tal Dr Baker Brown, em
Londres, apresentou à sociedade, a hipótese de mulheres serem
‘’nervosas e histéricas’’ por culpa do clitóris, portanto, o mesmo
deveria ser cortado, prática que perdurou até a década de 1920.
Então, imagina a cena: a mulher emite uma opinião qualquer
em casa, o marido leva ao médico e diz “doutor, essa mulher
está histérica” e o médico responde “ok, vamos cortar o clitóris
dela e logo ela ficará calminha’’.
Precisou passar todo o século XX para uma anatomista mulher
indignar-se, claro, resolver colocar a mão no clitóris e
desvendá-lo. Hellen O’Connell descobriu que o órgão pode chegar
até oito centímetros, que apresenta o dobro de terminações
nervosas de um pênis e, o melhor, ele está associado a todo o
organismo feminino. Ou seja, se esse pequeno órgão faz ligação
com todo o nosso corpo, isso significa que o prazer proporcionado
por ele interfere, positivamente, em nossa saúde física, mental
e emocional. É melhor que Rivotril! Por isso, iniciei essa trilogia
com o tema masturbação feminina, já que algumas cientistas
começam a apontar essa prática como um hábito saudável
para todas nós. Moça, seu clitóris tem poder! No próximo e
último artigo da Trilogia do Clitóris, veremos os benefícios
da masturbação autônoma feminina, além de práticas atuais
sobre o tema, desenvolvidas por mulheres ao redor do mundo.
*A prática da retirada do clitóris, apesar de ser considerada
um ato contra a dignidade da pessoa humana, ainda é
praticada em algumas partes do mundo por questões religiosas
ou estéticas.
Palmira Margarida é historiadora e atualmente é doutoranda na UFRJ.
Pesquisa sobre neurociências, os cheiros e as emoções. Estuda
também neurobiologia das plantas e é a pisciana mais ariana de que se
tem conhecimento. Descende de italianos e adora uma massa,
mas fala sem gesticular. Ama viajar e captar os aromas das trilhas,
das culturas e das ideias. Está em busca do profundo perfume do Ser.
Escreve neste espaço às quintas-feiras. Para informações sobre
seu trabalho com aromas na Casa Alquímica, entre em contato
pelo e-mail:palmira.margarida@revistavertigem.com
Assinar:
Postagens (Atom)