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quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

"LULUESDRÚXULES"


Vera Chvatal

Observar e conviver com os animais é apaixonante. Cachorros, gatos, pássaros... Seres peculiares, inteligentes e amorosos nos convidam a refletir sobre a necessidade de interagirmos afetiva e pacificamente com toda a criação neste nosso maravilhoso planeta Terra.
E quem é amigo dos animais sempre tem uma história interessante para contar.

Minha amiga Fátima conta que sua tia tinha um gato de estimação que foi batizado com o nome de “Luluesdrúxules”. A tia morava em São Paulo em uma dessas vilas de casas geminadas. O marido era farmacêutico e viajava muito, ficando vários dias fora de casa. Ela era modista e gostava de costurar à noite, em casa.

Luluesdrúxules era um gato angorá malhado de pêlos dourados e brancos. O nome era feio, mas o gato era bonito e inteligente. E, como todo felino, gostava de vagar à noite pelos telhados em busca de aventuras.

Mulher criativa e de ótimo astral, a tia da minha amiga adorava cantar. E o Luluesdrúxules gostava de ouvir sua dona. Gato ciumento queria que ela cantasse somente para ele. Todas as noites, lá pelas dez ou onze horas, para chamá-lo, ela abria as janelas de par em par e punha-se a cantar, com todo entusiasmo: -Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor! A vida passa, eu sem ninguém... e quem me abraça não me quer bem…

E nesse cover de Nora Ney ela se fazia ouvir e o gato corria desesperado pelos telhados para chegar logo em casa e ir para o colo de sua dona. E os vizinhos – bons vizinhos! – não reclamavam. Sabiam que essa era a única forma de trazer o Luluesdrúxules de volta para casa.
Provavelmente intuíam que deveria haver algo de mais profundo naquela relação, talvez uma forma de driblar a solidão. Animais domésticos fazem isso! Podem ser fiéis e inseparáveis companheiros para seus donos.

Depois dessa historinha verídica, só mesmo o poeta William Blake para nos lembrar que, se quisermos, podemos: Ver um mundo num grão de areia, e um céu numa flor silvestre. Ter o infinito na palma da sua mão, e a eternidade numa hora.
Oxalá!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Pensamento do mês: Janeiro/2008

Amor é síntese

Por favor não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise profunda
Quanto mais eu
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor
Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeito amor.


Esta bela poesia do poeta maior Mário Quintana foi enviada pela amiga Janaína Carvalho. Vale como reflexão para cada dia deste maravilhoso janeiro, cujos dias de calor, sol, chuvas e ventos fazem uma síntese de todas as estações do ano.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O BAMBU CHINÊS


Vera Chvatal

O mistério se deixa vislumbrar sob várias formas, da mesma maneira que Deus nos fala de diversos modos. Através do livro sagrado, dos acontecimentos, dos sonhos, da natureza que se renova constantemente e que está sempre nos presenteando com pérolas de sabedoria.
Assim acontece com a história do bambu chinês, esse fantástico arbusto que nos passa uma lição de vida digna de ser apreciada e colocada em prática, sem mais delongas.

Depois de plantada a semente desse incrível arbusto, nada se vê por aproximadamente cinco anos, exceto um lento desabrochar de um diminuto broto a partir do bulbo. Durante cinco anos, todo o crescimento é subterrâneo e invisível a olho nu. Entretanto, uma maciça e fibrosa estrutura de raiz, que se estende vertical e horizontalmente pela terra, está sendo construída. Então, lá pelo final do 5o ano, o bambu chinês cresce até atingir a altura de 25 metros.

Para atingir essa extraordinária altura, resistindo a toda sorte de intempéries, ventos e tempestades que inexoravelmente virão, as fibras do bambu desenvolvem a flexibilidade necessária para se curvar ao chão sem se quebrar. E, naturalmente, retornar à postura original após a passagem desses acontecimentos. É preciso, portanto, muita persistência e flexibilidade para o bambu atingir a sua plenitude.

A história do desenvolvimento do bambu da China pode ser comparada não só ao nosso próprio desenvolvimento, como também aos nossos projetos de vida, desejos de crescimento e até mesmo aos nossos sonhos. Pois estes também se desenvolvem no misterioso subterrâneo de nosso inconsciente, silenciosamente, invisível à nossa própria consciência.

Muitas coisas que nos acontecem se assemelham ao que acontece com o bambu. Como os ventos e tempestades que, às vezes, assolam as nossas vidas trazendo desilusões, frustrações, perdas, sentimentos de abandono, de desamparo, o vazio existencial e tantos outros sofrimentos.

Sem a flexibilidade e a persistência necessárias, esses acontecimentos podem nos fragmentar, despedaçar e podem nos levar à depressão. A palavra depressão, originária do latim de (para baixo) e premere (pressionar), diz que a pessoa está – quanto ao seu estado de ânimo – pressionado abaixo. Curvado como o bambu chinês!

Contudo, a psicologia nos ensina que a depressão abriga dentro dela o trabalho ou a possibilidade de uma elaboração! Do latim elaboratio – onis, elaboração significa um trabalho do espírito que conduz a uma idéia. E a idéia é o princípio de toda e qualquer ação.

Essa história do bambu nos leva a pensar em quanta sabedoria Deus coloca sob nossos olhos, que pode nos levar a um crescimento harmonioso, íntegro, saudável. É preciso ter olhos para ver... Por isso, a palavra do profeta diz: -Feliz o homem e a mulher que se ocupam da sabedoria e que raciocinam com inteligência. (Eclo 14,22).