UMA SEGUNDA FEIRA DE MAIO...

A manhã estava úmida e fresca. Havia chovido e as árvores respingavam gotas cintilantes como que se desvestindo da noite, e preparando-se para o novo dia que ressurgia através da neblina. Caminhando apressadamente ela respirava profundamente o ar fresco trazendo energia e satisfação através dos pulmões para o corpo, já não tão jovem e nem tão belo. Pensando nisso seu coração entristeceu-se pelo que se foi, por algo que jamais retornaria. Uma sensação doída de perda apertou-lhe o coração. 

Perder e ganhar eis a díade inexpugnável da vida. Não se ganha nada sem se perder algo e o inverso também pode ser verdadeiro. 

Curioso, porque estou pensando nisso agora? Porque não aproveitar essa bela manhã cinza prateada para caminhar, agradecer, lembrar as boas coisas vividas, sonhar com os bons momentos ainda por viver, como a próxima viagem já agendada!

É tão bom viver, a vida pode ser tão bela quando se sabe os limites do desejo, quando se doma a angústia da frustração, da insatisfação, do negativismo... 
Distraidamente seus olhos pousaram sobre um bem-te-vi que, bem à sua frente, beliscava algo sobre a grama verde. Talvez um inseto, com certeza um petisco. Observando-o com ternura reparou em suas penas lustrosas, úmidas de chuva ou de orvalho, e pensou em quanto era efêmera aquela vida... tanto quanto a sua! E lá estava ele atento às suas necessidades cotidianas, aparentemente tranquilo, ocupando-se no momento em saciar a fome, quiçá levar alimento para os filhotes no ninho.

Continuando a caminhar percebeu que o sol timidamente teimava em lançar alguns raios, ainda fracos, através da neblina, querendo aparecer, iluminar e aquecer o novo dia. Sem se dar bem conta do porquê, sentiu um novo alento em seu coração enchendo-o de satisfação, de esperança. Abrindo os olhos para a beleza que a rodeava viu encrustrada na frondosa árvore à sua frente, um ramo de orquídeas exalando suave perfume enquanto expunha sua beleza ao mundo. Mais adiante outro majestoso ramo florido... Flor de maio!

Isso a fez lembrar-se das flores de maio que tinha em casa e que finalmente voltaram a florescer justamente agora no início do mês de maio. Fato este que já há alguns anos não acontecia. Sentindo os grossos pingos de chuva que repentinamente começaram a cair do céu novamente escurecido,  caminhou apressadamente e feliz para casa onde os afazeres da segunda feira de maio a esperavam...

Vera Chvatal

 Fotos Vera