Época - 18/06/2012
Como o que fazemos com a natureza determinou o sucesso ou o fracasso
das civilizações desde a Antiguidade até hoje.
Os humanos ergueram a civilização graças a sua engenhosidade, iludidos
pela impressão de que podiam dominar a natureza sem consequências.
Na Pré-História, consolidaram seu domínio acabando com outros
hominídeos concorrentes, como os neandertais ou os Homo erectus.
Extinguiram grandes espécies, como os cangurus de 3 metros da Austrália,
os mamutes da América do Norte e as preguiças-gigantes da América no
Sul. Com o desenvolvimento tecnológico, a exploração predatória de recursos
começou a levar à falência algumas empreitadas. O caso mais clássico ocorreu
na Ilha de Páscoa, onde a população montou uma uma sociedade sofisticada,
com conhecimentos de astronomia e artes, mas ignorante de ecologia.
Desmataram a ilha e inviabilizaram a própria agricultura. Quando os
europeus os encontraram, restavam poucos descendentes maltrapilhos
que recorriam ao canibalismo para sobreviver. Outros fracassos estão
escondidos sob nossos pés. No século XIX, o Vale do Paraíba, entre o
Rio de Janeiro e São Paulo, sustentou o império do café, movido a
trabalho escravo e desmatamento. Quando a Mata AtlIantica mais
exuberante do país foi toda queimada, o solo empobrecido e seco não
sustentava nem capim. Os netos dos barões do café acabaram pobres.
Estamos agora diante de novas ameaças. Desta vez em escala global.
A história pode nos ajudar a tomar decisões mais sábias.
As civilizações perdidas
5000 a.C.-1300 d.C.
2000 a.C. a 1700 a.C.
SUMÉRIA
Atual Curdistão
Desenvolveram a primeira escrita conhecida. Ergueram a 3000 a.C.
uma civilização baseada na agricultura irrigada entre os rios Tigre e
Eufrates. A falta de cuidado levou à salinização do solo. Entre 2400 a.C. e
1700 a.C., a produção caiu 65%, mesmo com a substituição do trigo por
cevada, mais tolerante. A terra ficou branca e a Suméria ruiu.
600 a.C. a 300 a.C.
FENÍCIOS E GREGOS
Mediterrâneo
As florestas mediterrâneas, especialmente ricas em cedros do Líbano, se
estendiam do Marrocos ao Afeganistão. Eram matéria-prima essencial
para a construção e navegação dos fenícios. Foram gradualmente destruídas.
Os gregos tiveram de plantar oliveiras para conter a erosão das encostas
nuas.
250 a.C. a 900 d.C.
MAIAS
México
Fizeram pirâmides e observatórios astronômicos. Corrigiam o solo para
plantar milho. Desmataram tanto que as chuvas diminuíram em até 20%.
Começaram a passar fome e entraram em decadência antes da chegada
dos espanhóis.
600 a 1200 d.C.
ANASAZIS
Estados Unidos
A sociedade anasazi floresceu por volta do ano 600 e ruiu antes de1200.
Chegaram a levantar prédios com seis andares e 600 cômodos, usando
pedras e estruturas com vigas de madeira. Acabaram com as florestas da
região. A agricultura esgotou o solo. Foram dizimados por uma
sequência de anos secos.
1200 a 1700 d.C.
RAPA NUI
Ilha de Páscoa
Os primeiros habitantes da ilha a chamavam Rapa Nui. Ergueram uma
civilização com conhecimentos sofisticados de astronomia e construíram
as famosas estátuas, os Moais. Desmataram toda a ilha, gerando seca e
solos inférteis. Foram dizimados pela fome, pela guerra civil e acabaram
praticando canibalismo.
O impacto ganha escala
1400 a 1930
1492 a 1800
COLONIZAÇÃO DO NOVO MUNDO
Américas
Os europeus encontraram uma população com 50 milhões a 110 milhões
de pessoas isolada do mundo há 10 mil anos. Doenças como a gripe e a
varíola mataram mais do que as armas, a fome e a escravidão. Ratos e
esquilos europeus exterminaram espécies nativas.
1750 a 1850
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Europa
A invenção de máquinas a vapor movidas a carvão permitiu a produção
em massa de roupas, carros, trens e comida. Criou uma nova sociedade
de consumo e conforto, assim como a poluição do ar e o aquecimento
global pela queima de combustível fóssil.
1830 a 1909
DESCOBERTA DO PETRÓLEO
Europa
O início da exploração de petróleo na Rússia, na Polônia, nos EUA e no
Canadá substituiu o carvão. Gerou mais riqueza e conforto e agravou
o aquecimento global. Em 1909, a indústria inventou o plástico, material
sintético que nunca se decompõe.
1830 a 1970
1830 a 1888
CAFÉ
Brasil
Os fazendeiros do Brasil plantavam café, um dos produtos mais
valorizados do mundo, no Vale do Paraíba. Os lavradores derrubaram
a Mata Atlântica mais rica do país. A lenha alimentava a ferrovia
Central do Brasil. A prática gerou erosão e esgotamento do solo.
No fim, a terra não dava nem para capim. Os barões do café faliram.
1914
POMBO-PASSAGEIRO
Estados Unidos
Os primeiros colonizadores europeus encontraram uma população de 5
bilhões de pombos-passageiros (Ectopistes migratorius) nos EUA.
Eram de 20% a 40% das aves do continente. Os bandos escureciam o
céu levavam horas para passar voando. A caça e o desmatamento
acabaram com eles. O último da espécie morreu em 1914.
1934 a 1936
DUST BOW
Estados Unidos e Canadá
O desmatamento do Meio-Oeste para agricultura expôs o solo e mudou o
clima local. O solo nu começou a secar e erodir. Tempestades de areia
assolavam as cidades da região. A quebra das safras agravou a fome na
crise financeira dos anos 1930.
1945
HIROSHIMA
Japão
No dia 6 de agosto, na Segunda Guerra Mundial, os EUA lançaram uma
bomba atômica na cidade. De 90 mil a 166 mil pessoas morreram nos
quatro meses seguintes. Surgiu ali o medo da radiação usada para fins
pacíficos nas usinas nucleares.
1952
GREAT SMOG
Inglaterra
Em dezembro de 1952, condições atmosféricas impediram a dispersão da
fumaça de carvão das chaminés. A névoa cobriu Londres. Cerca de 25 mil
pessoas adoeceram e 6 mil morreram. O evento deu força ao incipiente
movimento ambiental na Europa.
1974
BURACO DE OZÔNIO
Planeta Terra
O químico mexicano Mario Molina publicou o primeiro estudo que
mostrava a redução na camada de ozônio da alta atmosfera, provocada
por gases CFCs usados em refrigeradores, sprays e na indústria. O
fenômeno aumenta nossa exposição a raios solares cancerígenos.
Um acordo internacional de 1987 começou a eliminar esses gases.
1984
BHOPAL
Índia
O vazamento de gás de uma fábrica de pesticidas da Union Carbide,
em Bhopal, causou a morte de 3 mil pessoas nas semanas seguintes e
8 mil nos anos posteriores. O desastre mudou as regras de segurança
das indústrias.
1984
CUBATÃO
Brasil
Em 24 de fevereiro, um duto de gasolina sob a favela de Vila Socó
explodiu, matando 99 pessoas. Em 1993, surgiram denúncias de
depósitos clandestinos de substâncias tóxicas da Rhodia. Desde então,
as indústrias investiram US$ 1 bilhão em redução de poluentes e
segurança.
1986
CHERNOBYL
Ucrânia
Em 26 de abril, o núcleo de um dos reatores da usina explodiu.
A nuvem radioativa chegou à Alemanha. O acidente causou
diretamente 50 mortes e estima-se que tenha contribuído para
doenças letais de pelo menos 4 mil pessoas.
1987
CÉSIO-137
Brasil
Em 13 de setembro, catadores encontraram uma cápsula de césio-137,
altamente radioativo, dentro de um aparelho médico num depósito de
lixo em Goiânia. Nos primeiros dias, o governo do Estado escondeu o
perigo, dizendo que era um "vazamento de gás”. No total, 249 pessoas
foram contaminadas e 29 adoeceram. Quatro morreram.
A política ecológica
1992-2012
1992
RIO 92
Brasil
A Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, de 3 a 14
de junho, reuniu representantes de 172 países, entre eles 108 chefes de
Estado. Criaram as negociações sobre clima, desertificação e
biodiversidade. Os eventos paralelos, reunidos no Fórum Global,
foram o primeiro grande encontro mundial de ONGs.
1996
VACA LOUCA
Europa
O uso de ração de origem animal para alimentar bovinos herbívoros
gerou uma doença batizada de síndrome da vaca louca. Ela
contaminou a carne, matando 166 pessoas no Reino Unido e 44
em outros países. Alimentou o medo de uma técnica diferente:
os transgênicos.
1997
PROTOCOLO DE KYOTO
Japão
Após anos de negociações, foi o primeiro acordo internacional para
reduzir as emissões dos gases responsáveis pelas mudanças climáticas.
Embora insuficiente, ainda é o único tratado em vigor.
2005
KATRINA
Estados Unidos
Atingiu o Estado da Louisiana, inundou Nova Orleans, matou 1.836
pessoas e gerou US$ 81 bilhões de prejuízos. Foi usado como amostra
das consequências das mudanças climáticas, embora não exista certeza
de que o aquecimento altere a força dos furacões.
2007
IPCC
França e Bélgica
O painel, organizado pela ONU desde os anos 1990, reúne milhares
de pesquisadores do mundo todo para estabelecer o consenso
científico sobre o clima. Os relatórios de 2007 mostraram mais
claramente o papel humano no aquecimento e suas consequências.
Tornaram-se referência para empresas e governos.
2011
FUKUSHIMA
Japão
O terremoto e o tsunami que atingiram o Japão em 11 de março
provocaram falhas nos sistemas de usina nuclear Fukushima Daiichi.
O núcleo de três reatores fundiu. Um perímetro de 20 quilômetros
foi evacuado. Índices de radiações subiram até Tókio.
A crise foi controlada, mas a indústria nuclear não se recuperou.
Matéria retirada do site:
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/6/18/
a-historia-verde-da-civilizacao
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