A vida sobre uma árvore em plena 23 de Maio
Com pedaços de madeira, plástico e cobertores, morador de rua fez lar em cima de uma figueira
12 de novembro de 2012 | 18h 52
Juliana Deodoro
A "casa" é pequena: a base, formada por pedaços de madeira e sustentada por ripas, tem pouco mais de um metro de largura por dois de comprimento. As paredes são de cobertores e o teto, de plástico. Diego conta que a moradia - a segunda no mesmo local - ainda é precária, muito diferente da casa que havia construído há mais de dois anos e foi destruída por funcionários da Prefeitura. "Na antiga, tinha uma parede de madeira que deixava ela fechadinha. Pintei tudo de verde e, se você olhava de longe, não percebia que a casa estava entre as folhas", conta.
Além dos dois troncos que sustentam a base, galhos mais finos servem para amarrar os cobertores e pendurar roupas e objetos pessoais. Apesar do armário improvisado, sempre que sai, leva todos os seus pertences na mochila: sabonete, xampu, escova de dente, desodorante, cigarro, isqueiro, escova para lavar roupa e camisinha.
Os motivos para estar ali são simples: "Aqui me protejo da polícia, dos noias e de outros moradores de rua. Era meu sonho mesmo ter uma casa na árvore. Tem dia em que sento ali em cima e viajo... a 23 de Maio subindo e descendo." Outra razão é de ordem prática: há duas bicas de água limpa, nascente e corrente por perto, uma de cada lado da avenida. Ele diz que o barulho do trânsito não o incomoda - "Vira até sinfonia" -, mas seu momento preferido é de madrugada. "É a única hora de silêncio."
Há duas semanas, Diego recebeu uma proposta indecorosa. "Queriam comprar a casa por R$ 500. Fiquei quase ofendido. Para começar, esse aqui é um espaço da Prefeitura. E outra: é a minha casa, não posso vender."
Seus planos para o futuro são modestos. Diego deseja apenas tirar seus documentos e arrumar a casinha, quem sabe ter uma televisão e um fogareiro. "Seria muito bom ter casa própria, mas fui para a rua muito cedo e gosto tanto daqui, não quero sair. Olha essa vista! Todo dia agradeço a Deus por essa árvore", diz, olhando do alto, entre as folhas, para a avenida.
Recebido por e-mail do Movimento Resgate Cambuí
Nenhum comentário:
Postar um comentário