Somos humildes em nossa essência, e com essa humildade é que Vos pedimos, Pai, apressai-Vos em nos socorrer! Precisamos de Vosso auxílio vindo como um raio de luz porque somos maltratados, abandonados, torturados, enxotados das portas e vemos nossas vidas se extinguindo mais e mais, todos os dias, indiscriminadamente pelas mãos violentas do homem.
O mesmo homem, Pai, que há milhares de anos nos permitiu cruzar para que, em sua soberba, nos fizesse escravos, auxiliando como mão-de-obra nos trabalhos e na guarda de suas cabanas. Sim, Pai, fomos utilizados pelos homens de todas as formas e sofremos todas as atrocidades da escravidão, culminando nossa velhice em abandono de nossos corpos ainda vivos em campos solitários.
O mundo evoluiu através das mãos dos homens e, alguns de nós, os de raça, se tornaram adornos domésticos. A nós, os sem raça, coube apenas um banco frio e úmido nas praças para que nos escondamos sob ele, e vez por outra, uma mão amiga que passa e nos sacia a fome e a sede, algumas até nos acariciando. Mas elas se vão, e a nossa realidade solitária fica conosco, em nossas vidas.
Outras mãos chegam para nos atormentar, ferir e nos enxotar. E quando estas mãos cruéis chegam à nossa volta, rezamos Pai, para que apenas nos enxotem, porque as torturas são bárbaras, nos causam muita dor.
Oh, Pai! De seres úteis para o trabalho passamos a ser a escória de nossa própria espécie, uma escória que precisa, segundo o homem, ser dizimada nos campos de concentração, aos quais a espécie humana carinhosamente chama de "carrocinha".
Senhor, não temos sabedoria suficiente para compreender no que somos diferentes dos nossos irmãos com raça definida. Por acaso não temos olhos para ver, ouvidos para ouvir, voz para nos expressarmos, quatro patas para nos locomover, pelos cobrindo nosso corpo, inteligência e sensibilidade para amar intensamente aos nossos donos, a ponto de compreendermos o estado de suas almas?
Quase não damos gasto, Senhor, somos mais resistentes fisicamente, comemos qualquer coisa e quase nada nos faz mal; qualquer pedaço de sabão nos lava o corpo e a qualquer dono amamos incondicionalmente. Moramos em qualquer cantinho, tomamos sol e chuva sobre o dorso, passamos frio e calor ardente, quase nunca adoecemos, e ainda assim amamos nossos donos.
Alguns, Pai, nos espancam por nada ou pelo tudo de suas vidas vazias, outros nos amarram com cordas envolvendo nosso pescoço, cordas estas que nos ferem, e apesar disso, continuam tendo nosso afeto e nossa fidelidade. Por que, Pai, por que não nos querem, por que nos abandonam? Nem sempre somos o exemplo da beleza física terrena, mas somos incondicionalmente o mais claro exemplo da beleza espiritual e de um belo coração. Sentimos dor e medo como nossos irmãos de raça, mas defendemos nossos donos acima das nossas próprias vidas, com coragem e determinação. E ainda assim, somos abandonados.
Óh, Pai, vem em nosso socorro. Apresssai-Vos Pai!
Somos assassinados aos milhares todos os dias em nome da saúde do homem. Somos centenas deixados longe de casa diariamente, por aqueles que nos prometeram afeto. Estamos morrendo, Pai! Mais do que a morte do corpo, nosso espírito se sente morrer de tristeza pela dor do abandono e do desprezo!
Apressai-Vos Pai, apressai-Vos em nos socorrer!
Impetrai no coração do homem a bondade que se perdeu nos corredores do tempo, que se limitou aos elos do passado. Impetrai no mundo a volta do respeito às Vossas leis, à Vossa presença que se reflete na vida por mais singela que seja, a mesma vida que Vós, Pai, com tanto amor criastes!
Ajudai àquelas pessoas que lutam sinceramente por nós, para nos manter vivos, para nos arrumar um lar, e que muitas vezes acima de suas posses nos mantém, nos curam as doenças do corpo. Dai a elas a força para prosseguir nessa luta, a coragem para tomar a frente por nós diante de sua própria espécie, e as cubra de bençãos com teu manto de luz e de prosperidade para que tenham meios de nos cuidar.
Apressai-Vos Pai, e ajudai-nos a encontrar um lugar, o NOSSO lugar no mundo. Ainda que este lugar Pai, esteja entre o grito silencioso dos nossos irmãos sacrificados e as palavras dos protetores em nossa defesa, em busca de uma chance de podermos continuar vivendo, em nome do respeito que eles têm por Vós e do amor sincero que têm por nós!
Autoria desconhecida
Recebido por e-mail de Nelice Buonacorso
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