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sábado, 6 de fevereiro de 2010

O NU E O SAGRADO


Claude-Gerard Sarrazin

O ocidental, salvo raras exceções, não associa a nudez ao sagrado. Para este "homem honesto", o nu está intimamente ligado ao profano e até com uma boa dose de maldade.
O Ocidente, mesmo ateu, é de cultura cristã. E este cristianismo está impregnado de antigas (e antiquadas) tradições. Tais tradições costumam associar a Divindade aos lugares de culto sagrado, aos templos. Tudo o que diz respeito ao Alto deve ser consagrado a uma igreja, um templo ou uma sinagoga. Não se pode, por isso, nem sequer imaginar um ofício religioso, nesses lugares sagrados, celebrado diante de uma assembléia de devotos e compenetrados nudistas! Menos ainda celebrado por um mandatário nudista!

Neste caso, a Índia, considerada um dos países mais religiosos do mundo, conta com algumas centenas de milhares de religiosos nus, os nangasannyasin, monges mendicantes que perambulam por todo lugar usando nada a não ser o cimta, uma espécie de campainha que vão fazendo soar enquanto caminham em silêncio. Os templos consagrados ao deus Shiva honram, nada mais nada menos, que o seu linga, ou seja, o pênis.

Dir-se-a: isso é folclore, coisa longínqua... mas os lamas tibetanos vivem nus entre as neves eternas do Himalaia. Os yogues vivem nus há séculos e entre eles não existe praticamente doença alguma. Esse "folclore" não está certamente aberto a qualquer um! As convicções religiosas desses ascetas não podem ser menosprezadas. Seria muito bom que os padres, ao menos no verão, celebrassem nus para simbolizar a pureza, sem os veus do fingimento. Os templos egípcios mostram deuses nus, enquanto apresentam os faraós celebrando ritos em atitudes muito respeitosas.

Poderiam simplesmente ser chamadas de "folclore" as incontáveis maravilhas da cultura grega? Elas imortalizaram tão bem o atleta, como estava no momento de seu triunfo, como um deus ou uma deusa no seu respectivo templo. Os atletas são representados nus, no esplendor de sua beleza física. Nas arenas eles combatiam nus, usando um escudo de cobre para se protegerem. O guerreiro morria nu, porque a nudez era sagrada. Por ocasião das festas druídicas, sacerdotisas nuas pintavam o corpo de azul, porque o insondável e o infinito são representados por esta cor. A nudez é sagrada.
E... os cristãos?

Em nossos dias se batizam os recém nascidos vestidos de branco, para simbolizar a pureza. Esconde-se o corpo, que se considera impuro, com uma vestimenta que representa a pureza. Pode? Será talvez o batismo uma purificação que não afasta a impureza?  Os primeiros cristãos representavam o Cristo com os traços de um Apolo Nu! Tais representações (pinturas, esculturas e mosaicos) nada equivocadas, muito bem conservadas, existem até hoje. Era costume representar o Cristo sendo batizado nu, assim como nu estava o Cristo na cruz! Naquela época os fiéis eram batizados nus, para significar o que a nudez trazia consigo: a pureza da verdade. O nu e o sagrado andavam juntos.

Os doutrinadores e teólogos revisionistas modificaram tudo e, sorrateiramente transmitiram os seus ensinamentos. Fala-se hoje, só depois de séculos de condicionamento negativo, que pudor é coisa natural. Será mesmo? Mas fala-se também, hoje em dia, de Gaia, da Natureza, de "retorno à natureza". Estamos prontos para uma renovação que por muitos é considerada pagã, de celebrar as núpcias do Homem com a Natureza. Procura-se o divino em outros lugares, não somente nos templos fechados. As árvores estão nuas. As flores estão nuas (são elas os orgãos genitais das plantas!). Os animais estão nus. E o ser humano? E o Homem e a Mulher?

Muitos cristãos repetem, mas sem pensar verdadeiramente no que dizem, aquilo que o apóstolo Paulo dizia (ele sim, pensava): "o corpo é o Templo do Espírito". Ele tem seu lugar no grande templo da Natureza. E o corpo é suficientemente bom, não necessita ser coberto de véus pudicos. O cristão repete também que "Deus fez o Homem à sua Imagem". Repete, mas mais uma vez, não pensa no que diz, pois Deus fez o Homem nu. Esta Imagem de Deus é um ícone respeitável, se é! Mesmo havendo pessoas perversas que desnaturam esta Imagem, milhares de milhares de seres humanos a veneram e respeitam! O ser humano nu, na sua verdade esplêndida, é a imagem mais sagrada de Deus no universo!

Artigo publicado na revista "La Vie Au Soliel", número 66, em 1997. tradução do Pe. Paulo C. Marconcini, extraído da revista Naturis.

2 comentários:

ney disse...

Interessante postagem. Alguns estudos dizem que as montanhas do Rio formariam a maior esfinge da Terra, mas o FALO do gigante adormecido estaria no Corcovado, onde ergueu-se o Cristo, no contexto religioso seria complicado (veja em http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernos/jb_ecologico/2005/03/04/jorjbe20050304035.html.
Para chegar na America Colombo superou dificuldades religiosas, precisou dizer que traria a palavra de Deus, e conquistaria terras para os soberanos. Para eles, nem a verdade pode ser nua e crua. ney.

Vera disse...

Oi Ney!
Gostei do texto sugerido. Eu desconhecia esses estudos e especulações arqueológicos em relação ao Corcovado, no Rio de Janeiro.
Vera