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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

ORAÇÕES À BEIRA DA SEPULTURA



Mensagem original
De: Rubem Alves < rubema_alves@uol.com.br >
Assunto: RUBEM
Enviada: 29/01/2013 17:18
03.02.13

ORAÇÕES  À BEIRA DA SEPULTURA

 Quando o  Horror acontece as autoridades, por obrigação do  ofício, se põem a multiplicar palavras, fazendo declarações, prometendo investigações rigorosas e punição dos responsáveis. Mas suas promessas são inúteis. Não é possível fazer os mortos  voltar das sepulturas.

Relata o livro de Jó que os três amigos que o visitaram por ocasião da sua desgraça “sentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites, e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande” ( Jó 2.13 ). Eles sabiam que, diante do trágico deve-se calar e chorar.

O Horror pede silêncio.  Goethe disse que “poesia é a linguagem do que não pode ser dito”. Assim, resta-nos não dar ouvidos ao falatório ôco das autoridades, e rezar. 
Assim, rezemos...

 “Ó tu, Senhor da eternidade, nós que estamos condenados a morrer elevamos nossas almas a ti à procura de forças, porque a Morte passou por nós na multidão dos homens e nos tocou, e sabemos que em alguma curva do nosso caminho ela estará nos esperando para nos pegar pela mão e nos levar... não sabemos para onde. Nós te louvamos porque para nós ela não é mais uma inimiga, e sim um grande anjo teu, o único a poder abrir, para alguns de nós, a prisão de dor e do sofrimento e nos levar para os espaços imensos de uma nova vida. Mas nós somos como crianças, com medo do escuro e do desconhecido, e tememos deixar esta vida que é tão boa, e os nossos amados, que nos são tão queridos. Dá-nos um coração valente para que possamos caminhar por essa estrada com a cabeça levantada e um sorriso no rosto. Que possamos trabalhar alegremente até o fim, e amar os nossos queridos com ternura ainda maior, porque os dias do amor são curtos. Sobre ti lançamos a carga mais pesada que paralisa nossa alma: o medo que temos de deixar aqueles que amamos, os quais teremos de deixar desabrigados num mundo egoista. Nós te agradecemos porque experimentamos o gosto bom da vida. Somos-te gratos por cada hora de nossas vidas, por tudo o que nos coube das alegrias e lutas dos nossos irmãos, pela sabedoria que ganhamos e será sempre nossa. Se nos sentirmos abatidos com a solidão, sustenta-nos com a tua companhia. Quando todas as vozes do amor ficarem distantes e se forem, teus braços eternos ainda estarão conosco. Tu és o Pai dos nossos espíritos. De ti viemos e para ti iremos. Regosijamo-nos porque, nas horas das nossas visões mais puras, quando o pulsar da tua eternidade é sentido forte dentro de nós, sabemos que nenhuma agonia da mortalidade poderá atingir nossa alma inconquistável e, para aqueles que em ti habitam, a morte é apenas a passagem para a vida eterna. Nas tuas mãos entregamos o nosso espírito"” ( Walter Rauschenbusch, Orações por um mundo melhor, PAULUS )
*  *  *
O PROFETA E A MORTE

E pediram ao profeta: Fale-nos sobre a Morte. E ele disse: “A coruja, cujos olhos noturnos são cegos durante o dia, não pode revelar o mistério da luz. Se quereis realmente contemplar o espírito da morte, abri bem o vosso coração para a vida. Pois a vida e a morte são um, assim como o rio e o mar são um. Nas profundezas das vossas esperanças e desejos está vosso conhecimento silencioso do além. E como sementes sonhando embaixo da neve, vosso coração sonha com a primavera. Confiai em vossos sonhos, pois neles estão escondidas as portas para a eternidade. Pois o que é o morrer além de estar nu ao vento e derreter-se ao sol? E o que é cessar de respirar, senão livrar a respiração de suas incansáveis marés, que se elevam e expandem e buscam a Deus sem obstáculos? Só cantareis de verdade quando beberdes do rio do silêncio. E quando chegardes ao topo da montanha, só então começareis a subir. E quando a terra pedir os vossos membros, só então dançareis.” ( Khalil Gibran, O Profeta ).

Um comentário:

José Hamilton Aguirre disse...

Parabéns pela sensibilidade Vera... todos iremos em algum momento... a dor da morte e o prazer da vida... existência aparentemente concreta e mistérios da alma... todas essas reflexões nos deveriam levar a viver melhor o dia de hoje, buscar às coisas realmente importantes... mudar esse mundão tão sofrido e ajudar ao próximo...