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domingo, 20 de janeiro de 2013

POR UMA CIDADE MAIS VERDE


 

Por uma cidade bem mais verde

Ecologia: pesquisador da Embrapa defende a necessidade de um olhar atento para o meio ambiente
17/01/2013 - 12h19

Foto: Divulgação
Divulgação
Pesquisador da Embrapa aponta necessidade de mais áreas verdes
 

Campinas precisaria ter 365 mil árvores a mais em suas ruas do que as atuais 120 mil unidades, o que corresponde a uma árvore para cada nove habitantes. A constatação vem do estudo Quantificação da Arborização Urbana Viária de Campinas, realizado pela Embrapa Monitoramento por Satélite, uma unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Uma publicação técnico-científica com dados das áreas mais e menos arborizadas da cidade e a apresentação da metodologia adotada será lançada para consulta ainda este mês e estará disponível no site www.cnpm.embrapa.br.

Segundo o coordenador da pesquisa, Ivan André Alvarez, esse é o primeiro estudo científico sobre o tema no município. Durante um ano, foram verificados 4.863 quilômetros de ruas, avenidas, canteiros centrais e rotatórias que estão sob os cuidados da administração municipal. “Foi um trabalho relativamente rápido e barato, graças ao uso da geotecnologia”, comenta.
Em conversa com a Metrópole, Alvarez apontou os gargalos da arborização urbana e indicou a necessidade de haver uma equipe bem treinada para o manejo – isso evitaria podas irregulares, que acabam matando as espécies e levando a cortes desnecessários. O pesquisador sugeriu, ainda, ações para o poder público contribuir para a cidade ficar mais verde. “Campinas tem um staff intelectual muito bom nessa área, que começou no passado com
o pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) Hermes Moreira de Souza. Temos também a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Não podemos deixar isso se perder”, ressalta.

Metrópole – Como foi realizado o mapeamento das árvores urbanas de Campinas?
Ivan André Alvarez – Foi um trabalho quantitativo. As imagens em alta definição dos bairros foram captadas por satélite, interpretadas por pesquisadores e transformadas em mapa. Em alguns pontos, para validar os resultados das imagens, uma equipe de pesquisadores foi a campo conferir as condições das espécies.

E qual foi a conclusão do estudo?
Constatamos que a região Norte, sobretudo Cidade Universitária, Barão Geraldo, Joaquim Egídio, Real Parque e Vila Brandina, é a mais arborizada. Nas regiões Centro e Sul, principalmente Nova Aparecida, Padre Anchieta e Distrito Industrial, há o maior déficit de árvores.

Campinas, então, é uma cidade pouco arborizada?
De forma geral, sim, pois nem todas as ruas têm árvores. A lei indica que deve haver uma árvore plantada em calçada a cada 10 metros, mas isso não acontece aqui. A média geral na cidade é de 25 árvores por quilômetro, ou uma árvore a cada 40 metros. Além da arborização em calçadas, canteiros centrais e rotatórias, que foi o foco do estudo, faltam espaços verdes. Os bosques, as praças, os parques e a Mata Santa Genebra não abrangem todo o território, nem levam conforto a toda a população. Onde há mais árvores plantadas, a sensação térmica, o ruído e a poluição do ar são menores.

O município já foi mais arborizado?
Campinas cresceu, a área urbana está invadindo a zona rural, os espaços verdes diminuíram, as casas já não têm quintais como antes e há mais vias e mais carros circulando por elas. Tudo isso mostra que, infelizmente, as árvores estão cada vez mais escassas. Também constatamos um cenário de destruição. Muita gente não quer mais ter árvores na frente da casa por causa das folhas que caem constantemente, das raízes e da necessidade de corte. Isso sem falar das podas radicais, que são mais fáceis, mas não são corretas porque enfraquecem a árvore. Com orientação e profissionais capacitados, é possível deixar a cidade mais verde e agradável, com espécies adequadas em locais propícios.
No estudo, também foram avaliadas as características e as condições das árvores?
Nosso foco foi quantitativo, mas a segunda etapa, que ainda depende de verba para ser realizada, será qualitativa e então deveremos ter informações mais precisas quanto às espécies e suas condições. No entanto, nas verificações de campo e caminhando pelas principais ruas e avenidas de Campinas, como no bairro Guanabara, vemos diversos exemplos de um problema muito recorrente: o manejo inadequado. As podas e os cortes são feitos de maneira errônea e as árvores acabam morrendo.

Quais são as espécies mais comuns nas ruas campineiras? Elas são adequadas para arborização urbana?
Temos árvores e arbustos, que são bem diferentes. As árvores crescem e oferecem sombra, já os arbustos são de menor porte e ramificam embaixo. Entre as espécies mais comuns na cidade estão sibipiruna, ficus (que é inadequada), tipuana, aldragos, cássias e ipês. Perto de nossa diversidade, são poucas as variedades.

Como vocês chegaram à conclusão de que há um déficit de 365 mil árvores?
O levantamento considerou cerca de 4,85 mil quilômetros de calçadas, canteiros centrais e rotatórias com manejo da arborização sob a responsabilidade da administração pública. Se levarmos em conta o que diz o Guia de Arborização Urbana de Campinas, que determina uma árvore a cada 10 metros, o ideal seria ter 485 mil árvores no sistema viário da cidade, e não as 120 mil que o levantamento apontou. O déficit refere-se, então, a essas 365 mil árvores.

Quais os lugares que mais necessitam de árvores em Campinas?
Na área que cresceu após a Rodovia Anhanguera há uma queda abrupta do número de árvores. Não houve planejamento, nem plano diretor de arborização urbana nos bairros daquela região. O Centro também é um local em que, praticamente, não existe arborização viária.

O que é necessário para reverter essa situação?
Minha sugestão é implantar projetos como o IPTU Verde, que oferece desconto no imposto para quem mantiver árvores na calçada ou no quintal, realizar ações de plantio e conservação das espécies e manter uma fiscalização eficiente. Falta um entendimento das pessoas sobre os benefícios das árvores, assim como falta amor pela natureza. Por isso, é que campanhas e ações educativas voltadas à população, principalmente às crianças, são fundamentais.

Recebido por e-mail do Movimento Resgate Cambuí

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