Como fios e galhos lutam pelo espaço aéreo nas ruas, redes elétricas subterrâneas podem ser a saída para a arborização urbana
09/04/2013 - 08:32
Ambientes quentes, calçadas e asfalto danificados pelas raízes, postes com emaranhados de fios junto a folhas, galhos e até ninhos de pássaros, árvores podadas de forma tão drástica que, certamente, morrerão futuramente. Tendo em vista estes problemas, oMovimento Resgate o Cambuí, em Campinas (SP), luta por uma causa pouco conhecida no Brasil: enterrar os fios elétricos aéreos das ruas.
Segundo José Pissolato, professor da Unicamp e especialista em alta tensão, as redes elétricas subterrâneas consistem em redes compactas de energia instaladas abaixo do solo, com os fios protegidos por dutos. “Essas redes substituem as atuais feitas com postes e cabos elétricos. Ela é feita dentro de dutos protegidos contra água e outros, como pequenos animais”.
Tereza Penteado concorda com o especialista. “Com os fios enterrados, ninguém tomaria choques, o ambiente mais arborizado promoveria maior bem-estar e lazer, diminuindo a violência”, afirma a profissional.
Um estudo recente da Universidade de Temple, nos EUA, coincide com a afirmação de Penteado. Segundo a pesquisa, além de melhorar a qualidade do ar e deixar a paisagem urbana mais agradável, as árvores também podem combater a criminalidade nas grandes cidades, reduzindo, principalmente, o número de casos de agressão, furto e roubo. Segundo os pesquisadores da universidade, localizada na Pensilvânia, as árvores, os arbustos, praças e parques com a vegetação bem cuidada incentivam a interação social e a ocupação da comunidade nos espaços públicos, coibindo práticas violentas.
Menor não é melhor
A solução proposta por prefeituras, como a de plantar árvores de pequeno porte nas calçadas para que não prejudiquem os fios ou as calçadas, não é, segundo Tereza Penteado, necessariamente correta. “Cansamos de nos deparar com mudas de quaresmeiras plantadas ao lado de um bambu e em um canteiro pequeno o suficiente para comportar apenas o tronco da árvore”.
O professor José Pissolato explica que a infraestrutura subterrânea ainda não é muito presente no País devido ao custo de sua instalação. “As instalações iniciais são mais caras que as instalações aéreas, mas o investimento vale a pena. Em longo prazo, em termos de manutenção, ela não tem os problemas que as aéreas têm. Por exemplo, uma queda de árvore, uma colisão de um carro e descargas atmosféricas não afetam os fios dentro do duto subterrâneo. Como as redes ficam abrigadas embaixo da terra, a proteção contra descargas atmosféricas é de quase 100%”.
Não existe uma lei brasileira que obrigue as concessionárias a investirem nas redes subterrâneas e Pissolato lamenta o fato. “Aqui essas redes são raras, há no centro de São Paulo e na Avenida Paulista, onde não se vê mais postes com fios na rua. Mas no exterior isto já é bem utilizado nas grandes cidades como em Paris, Londres e outras cidades da Europa”.
O outro lado
Tereza Penteado diz se sentir injustiçada ao estar em um País democrático que cobra altos impostos mas que não oferece à população aquilo que lhe traria benefícios. “Pagamos uma das mais caras tarifas de energia elétrica no mundo. Pagamos muito por uma infraestrutura que não é eficiente nem para o homem e nem para o ambiente. Temos o direito de receber um serviço de qualidade, custe o que custar”, afirma.
Apesar da triste realidade aérea das redes elétricas, ambos os profissionais mostraram uma visão firme e positiva quanto à luta da população pela implantação de um sistema subterrâneo. “Uma pressão governamental e por parte da população nas concessionárias a respeito desse assunto pode trazer benefícios a todos no meu ver”, diz Pissolato.
“Acredito que estamos, sim, caminhando para uma conscientização social. Percebo no próprio Movimento em que trabalho como a população tem arregaçado as mangas e lutado cada vez mais pelos seus ideais. Afinal, acho que estamos nos dando conta da triste realidade de nosso País. Se não lutarmos por nossos interesses, não vai ser o poder público que fará isto por nós”, complementa Tereza Penteado.
Movimento Resgate o Cambuí
Tereza e grupo
Nenhum comentário:
Postar um comentário