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domingo, 20 de fevereiro de 2011

RUBÁIYÁT DE OMAR KHÁYYÁM




146
" Lâmpadas que se apagam,
esperanças que se acendem: 
Aurora. *
Lâmpadas que se acendem,
esperanças que se apagam:
Noite. "
152
"A aurora encheu de rosas a taça do Céu.
No ar de cristal ecoa o último canto do rouxinol.
*O perfume do vinho é mais suave... Ó delícia!...
*E dizer-se que em momentos tais
há insensatos que sonham com a glória
e cuidam de honrarias!
*Tua cabeleira, ó minha bem-amada,
é macia como a seda. "

93
" Quando eu não viver mais, não haverá mais rosas,
nem ciprestes, nem lábios vermelhos, nem vinhos perfumados.
*Não haverá mais auroras, nem crepúsulos,
nem alegrias, nem penas.
*O universo não existirá mais,
pois tudo existe em função do meu pensamento. "


Revendo meus livros antigos descobri esta 11a. edição dos poemas de Omar Kháyyám, publicada em 1955 pela Livraria José Olympio, com posfácio de Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde).  Desde que o ganhei de presente de aniversário, ainda menina, de um amigo libanêz do meu pai, apaixonei-me pela obra desse poeta persa, nascido no ano de 1040 da era cristã e que foi também matemático e astrônomo.  Rubáiyát é o plural da palavra persa Rubai e quer dizer quartetos.

Obra primorosa traduzida por Octavio Tarquinio de Souza, agrega ainda uma carta escrita por Athayde ao tradutor onde reflete sobre o pensamento do poeta persa: "Omar não fez mais do que repetir a filosofia do Eclesiastes. E repetindo-o deliciosamente, com toda a doçura, a beleza, a sutileza de um poeta eterno, ele não fez mais também do que falar a uma face eterna do homem." 

Um homem, um poeta, um cientista, um pensador...  E neste domingo de sol, final do horário de verão, acompanhada de meus livros e parafraseando o poeta, penso que: "No turbilhão da vida só são felizes aqueles que, presumindo saber tudo, não buscam instruir-se..."* 

Minha amiga Yeda vai entender porque digo isso. Quando jovens passeávamos na praça perto de casa com nossas cachorras filosofando sobre a vida, sobre nossos sonhos, nossos desejos. Sabíamos que quanto mais líamos e estudávamos maior a consciência da nossa ignorância em relação a tantas coisas e isso nos angustiava. Lembro-me da Yeda ter dito que invejava as pessoas que pouco questionavam, pouco buscavam, achando que já sabiam tudo que precisavam e eram felizes. Milênios atrás um poeta angustiava-se também. A poesia é a linguagem da alma eterna...

Vera Chvatal

Foto Vera / feita ao amanhecer a bordo de um balão da Göreme Ballons na Cappadocia em 2009

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