Não consigo deixar de emocionar-me defronte a um belo vitral. Em minhas viagens sempre incluo nos passeios, além dos museus e castelos, visitas a catedrais, mesquitas, igrejas, capelas, para apreciar, entre outras coisas, a beleza de seus vitrais. O que me provoca sempre um profundo sentimento de gratidão pela oportunidade de apreciar a beleza e a magia de suas cores e representações. É extasiante quedar-se frente a esse caleidoscópio de luzes e cores destacando-se na penumbra do ambiente místico, e inebriar-se com sua magnificência...
Acredita-se que o vitral teve sua origem no Oriente. No ocidente, por volta dos séculos X e XI, quando o vidro passou a ser utilizado para embelezar, proteger e iluminar os ambientes, na época da cristandade passou-se a utilizar vitrais em suas magníficas catedrais góticas, com o intuito de reforçar a espiritualidade. O efeito da luz difundindo-se em seus múltiplos cristais de vidro coloridos criava um ambiente propício para o recolhimento. Em uma época em que a maioria das pessoas não sabia ler, seus motivos ligados às histórias bíblicas e à vida dos santos serviam para educar, através das imagens, os incultos e analfabetos.
Fico pensando nessa milenar e maravilhosa maneira de se educar através de imagens pictóricas. Ao mesmo tempo em que se ensinava os principais temas da fé cristã - os vitrais eram a bíblia dos pobres - despertava-se lhes a sensibilidade para a beleza e a arte. Beleza, arte e poesia andam juntas, e assim disse o poeta Manuel Bandeira: "A arte é uma fada que transmuta e transfigura o mau destino. Prova. Olha. Toca. Cheira. Escuta. Cada sentido é um dom divino."
Pois, revisitando a Catedral de Notre Dame e a Sainte Chapelle (em Paris) em junho deste ano e me deixando invadir pela emoção diante da beleza de seus vitrais, lembrei-me de um livro lido e esquecido já há algum tempo nas prateleiras da memória, onde o autor Michel Ribon dizia:
"O esplendor dos vitrais da catedral gótica também realiza, por meio do que há de mais brilhante na natureza, a captura da beleza divina, para aí fazê-la presente. Em especial no espaço resplandescente da rosácea, os engates de chumbo parecem aprisionar uma abundância de figuras emprestadas da natureza e dos relatos das Escrituras. Atravessando-as como um sopro, para iluminá-las e acabar por dissolvê-las num deslumbramento, a luz do sol decompõe-se e se recompõe, para se tornar, transfigurada, a do Deus criador, cuja flamejante difusão no interior do templo capta o fiel, a fim de convidá-lo para a festa de sua própria transfiguração." ( A Arte e a natureza. Ed. Papirus)
Sêneca afirmou que: "Raras vezes a beleza foi inconsequente para os homens." Pode-se aprender com a beleza. Na França as escolas programam visitas de seus alunos para conhecer e apreciar a beleza dos vitrais das catedrais góticas. Aqui no Brasil o vitralista e artista plástico Aluizio Teixeira, de 79 anos, que criou e montou os vitrais das igrejas de Santa Inês e de São Cristovão, em Belo Horizonte, e de São José Operário, em Timóteo, no Vale do Aço, afirma que "a arte vitralista está em extinção. É arte muito linda, que inebria, leva a pessoa para um mundo encantado."
Vera Chvatal
Fotos: Vitral do Castelo Chapultepec, na Cidade do México, e da Sainte Chapelle, em Paris.
Um comentário:
Totalmente de acordo.
obrigada.
Silvana
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