Prédica – Marcos 4.8-14
"Então o Espírito conduziu Jesus no deserto para o diabo lhe tentar."
Os caminhos mais difíceis se andam a sós.
A decepção, a perda e o sacrifício são solitários.
Mesmo aquela pessoa morta, que atende aosseus apelos
e se abre a toda exigência agora não lhe socorre.
Ela fica observando se conseguiremos superar...
As mãos dos viventes se estendem sem nos alcançar.
Elas parecem ramos de árvores no inverno,
quando os passarinhos se calam.
Você só escuta o seu próprio passo
que não foi dado ainda pelo teu pé, mas o deve fazer,
porque nada lhe ajudará ficar parado e olhar para trás.
Temos que seguir nosso próprio caminho,
acendendo uma vela como nas cavernas antigas,
onde apenas a luz respira.
Porém se ficar andando por um bom tempo,
o milagre chegará.
Porque o milagre acontece sempre,
e como não podemos viver sem a bondade de Deus,
a vela se acenderá mais forte,
e na luz do dia entrará o sol;
na sua frente você a soprará com um sorriso;
o sol em sua frente se estenderá à cidade em meio a jardins floridos.
Na sua casa a mesa estará posta com uma toalha branca
e os viventes – que um dia perderá –
e os mortos que nunca te perderão
vão dividir o pão com você e lhes oferecerão vinho
e você escutará suas vozes novamente – bem perto do seu coração.
Hilde Domien (1912 – 2006)
Este
texto/poema foi traduzido por D. Renate para o grupo de
mulheres. Lembrei-me dele ao preparar a nossa reflexão de hoje. João
Batista foi para o deserto e a partir do deserto chamou as pessoas a viver uma
vida nova. Arrependimento não se faz no meio da multidão em festa, mas na
solidão, no processo de rever a vida e as atitudes perante ela. São nos
desertos da vida – momentos de reflexão por causa de uma doença, de uma perda
significativa, de uma mudança necessária, que crescemos, mudamos a direção, transformamos
nossas vidas e atitudes.
São momentos pelos quais todos passamos e, as vezes, mais
de uma vez na vida. Desertos são necessários, pois deles saímos renovados. Mas
não dá para viver no deserto sempre, pois aí ele se transforma em doença. Quem está
no deserto precisa recobrar a esperança, olhar para o horizonte e ver nele
novas possibilidades. No deserto João batizava e conduzia as pessoas à
uma vida nova. Jesus também foi para o deserto e se deixou batizar por João. E
depois de batizado adentrou o deserto por 40 dias.
(40 dias - indica um tempo necessário de
preparação para algo novo que vai chegar:
40 dias e quarenta noites do dilúvio (Gn7,4.12);
40 dias e 40 noites passa Moisés no
Monte (Ex 24,18; 34,26; Dt 9,9-11; 10,10);
40 anos foi o tempo da peregrinação pelo
deserto (Nm 14,33; 32,13; Dt 8,2; 29,4,etc.); Jesus jejuou 40 dias antes de começar
o seu ministério (Mt 4,2; Mc 1,12; Lc 4,2); Ascensão de Jesus acontece 40 dias depois
da Ressurreição).
O
tratamento médico, a saudade, o luto, levam tempo para passar e para a vida
recomeçar. A Bíblia chama esse tempo de provação, tentação... Importante é
respeitar esse tempo, mas sem perder a fé e a esperança.
O
evangelho de Marcos diz que com Jesus no deserto havia animais selvagens (
sinal de perigo) e que os anjos cuidavam dele. Também em nossos desertos, em
meio aos perigos e ameaças que sofremos, anjos cuidam de nós. São os médicos,
os amigos, a comunidade em oração... Gente que às vezes nem conhecemos ou
percebemos sua presença.
E
o texto segue dizendo que “depois que Jesus saiu do deserto seguiu para a
região da Galiléia e ali anunciava a boa noticia que vem de Deus.” Jesus se deixou batizar
– e ao ser batizado veio do céu uma voz que disse: “Tu és o meu filho querido e
me dás muita alegria” - e depois foi conduzido pelo Espirito Santo para o
deserto, e de lá saiu fortalecido.
Nós
somos batizados, e por isso, mesmo em nossos desertos podemos nos agarrar a ele
lembrando que não estamos sozinhos. No batismo Deus nos agracia com o seu amor
infinito. Também nós somos queridos e amados por Ele. Através do batismo nos
tornamos parte de uma comunidade de fé que se compromete a nos acompanhar e
apoiar em toda nossa vida. Somos pessoas batizadas para viver em comunidade.
Não importa onde quer que estejamos, em qualquer parte do mundo, a comunidade
cristã tem o compromisso de acolher os batizados.
Estamos iniciando um novo
ano. Temos
planos, sonhos e desejos… Não sabemos o que vai acontecer ou o que vamos
poder concretizar, mas a fé nos impulsiona a caminhar, seguir adiante levando a
boa notícia do reino que Jesus anunciou e que já está no meio de nós.
Assim como os reis
magos do oriente caminharam guiados por uma estrela no céu,
somos convidados e
desafiados a caminhar este novo ano. Haverá sempre uma Estrela no caminho de
quem busca. Uma luz que brilha!
“Porque o milagre acontece sempre, e como
não podemos viver sem a bondade de Deus, a vela se acenderá mais forte, e na
luz do dia entrará o sol…”
Que assim
seja a nossa fé. Amém!
Pa.
Neusa Tetzner
Enviado pela Pastora Neusa por e-mail