Vera Chvatal
Dizem que o cão é o melhor amigo do Homem. E deve ser mesmo, pois nunca se valorizou tanto a companhia desse animal como atualmente.
Uma amiga que mora na Europa estava passando por uma crise de depressão e seu terapeuta disse-lhe para arranjar um cachorro como companhia. Sugestão aceita ela adotou o André, um enorme cão de caça, peludo, de cor marrom meio avermelhado que vivia num asilo para cães abandonados.
Avisaram-na de que o André era um cão muito carente, pois já fora adotado e devolvido algumas vezes ao asilo. Porém, quem resiste a um amor à primeira vista? E ela levou-o para o seu pequeno apartamento às margens de um charmoso canal de Amsterdã.
O problema surgiu logo nos primeiros dias de convivência. André era um cachorro sofrido, neurótico, que tinha muito medo de ficar sozinho. Não suportava separações. Sua dona não podia mais sair de casa, pois ele latia e uivava ruidosa e, ininterruptamente, enquanto corria desvairadamente pelo apartamento, assustando e incomodando os vizinhos. E à noite era ainda pior.
Conversando com o terapeuta do asilo, ele sugeriu que ela fizesse uma terapia de dessensibilização com o André. Ela deveria sair do apartamento ausentando-se nos primeiros dias por cinco minutos, no segundo dia por dez minutos, depois quinze minutos, e assim sucessivamente. Ela iria aumentando, gradativamente, o tempo em que ficaria fora de casa para o André ir se acostumando com as ausências, sem sofrer. E aprendendo que não estava sendo abandonado.
Acontece que essa terapia canina ia demorar uns meses para surtir efeito. Não havia um prognóstico certo. E minha amiga precisava cuidar da vida, fazer compras, visitar amigos... Durante o dia ela o levava junto por quase toda parte. Quando iam às compras o André ficava aguardando, pacientemente, na porta do supermercado, do correio, das lojas, etc. Porém, à noite, quando ia à academia fazer ginástica, não tinha onde deixá-lo.
Um ritual para driblar o André e poder sair sem maiores problemas foi arquitetado. Nas noites em que tinha academia ela vestia a roupa de ginástica e por cima vestia o pijama. Fazia uns agradinhos no André e depois se punha a bocejar e espreguiçar, simulando que estava com sono e iria dormir.
Dava boa noite entrava no quarto e fechava a porta. Ele ficava uns momentos aguardando do outro lado meio desconfiado. Depois ia para a sua cama que ficava na sala. Silêncio total, o André dormindo, minha amiga tirava o pijama, pulava a janela que dava para um corredor lateral e ia para a academia. Na volta entrava pela janela, punha o pijama e ia para a sala. E o André acordava feliz e festeiro, acreditando que ela estivera no quarto o tempo todo!
Esse ritual se repetiu quantas vezes foi necessário até que o André foi se acostumando com as ausências, sem ter mais ataques de pânico. A terapia canina se revelou um sucesso e eles viveram juntos por um bom tempo.
4 comentários:
zfextQue delicia reler esse seu texto...me levou de volta no tempo da terapia e do sucesso que foi esse convivio com o inesquecivel Andre...Obrigada!!!
Vera..seu blog esta muito bonito...nao tenho sugestoes...vou com certeza ser visitante assidua...
Parabens!!! bjs Yeda
Ieda, amiga!
Nunca me esquerecerei dessa sua "história de amor" com o André. Achei que merecia ser contada, pois é muito belo o que você fez por ele.
Bjs saudosos, Vera
Vera,
gostei muito do seu blog!O jeito que você escreve é encantador e muito interessante.Fiquei encantada também com a sua formação, é admiravel e exemplar para mim.Parabéns!Beijos, Bruna.
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