PARA REFLETIR...
Tomas Regan
Resenha: Valdemar Augusto Angerami-Camon
Partindo de princípios filosóficos, entre os quais a famosa afirmação de Descartes de que "os animais não possuem sentimentos", e passando pela maneira como a indústria agro pecuária nos impõe em nossa subjetivação a "necessidade" de se comer carne, o autor mostra os mais diferentes caminhos de crueldade cometido pelos humanos contra os animais. Nessa busca também existe uma reflexão sobre o início do cristianismo quando os novos cristãos perguntam a São Paulo se poderiam comer carne de porco que era proibída para os judeus, e esse então responde que o que faz mal não é o que se come, o que vem de fora, mas aquilo que vem de dentro. E estava decretada a sentença final contra os animais da forma mais singela possível.
Ele mostra, inclusive, que muitos retiros cristãos voltados pra o crescimento espiritual de seus participantes são encerrados com churrascos e até mesmo feijoada sem a menor questionamento de que "sujeitos-de-uma vida" foram impiedosamente sacrificados para que esses sujeitos "elevados espiritualmente" pudessem se divertir.
A quietude do ato de violência quanto à natureza dos direitos humanos é estendida aos animais. Examinando a ética desses direitos conclui que os animais também querem viver e se importam com suas vidas mesmo que nenhum outro ser (humano ou não) se importe com elas. E vai além em indagações sobre como uma espécie (a humana) que violenta a si própria com estupros, escravatura, assassinatos, roubos e humilhação pode respeitar outras espécies.
Seja nos produtos que consumimos (alimentos, cosméticos, vestuário), seja nos entretenimentos que buscamos (circos, rodeios, caçadas), seja ainda no tipo de ciência dogmática que ainda escolhemos como oficial, envolvendo, muitissimas vezes, práticas insensíveis ou até mesmo inúteis, nossas escolhas cotidianas afetam dramaticamente a vida dos animais não-humanos. Tornar isso visível é uma das tarefas heróicas deste livro.
Jaulas Vazias é o relato de uma impressionante e original contribuição teórica. Mais do que isso: é um convite franco e ponderado a fazermos nossa jornada individual e coletiva em direção a uma consciência ampliada, encarando diariamente o desafio de fazer valer os direitos animais.
Recebido do Centro de Psicoterapia Existencial
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