Vera Chvatal
Como nem só no outono se vive, eis que chega o inverno com suas temperaturas mais baixas, trazendo o mês de julho e as férias escolares. Tempo de empinar pipas coloridas… Tempo de namorar, de ficar juntinho, como canta e encanta o Tim Maia com seu possante vozeirão:
“Quando o inverno chegar, eu quero estar junto a ti…”
Campinas fica mais vazia, mais charmosa, mais acolhedora. O trânsito de veículos diminui e os ipês florescem colorindo a cidade em suaves tons rosados e amarelo-ouro. O céu ora azulado, ora cinzento vai sinalizando que é tempo de recolhimento, com seus dias mais curtos e noites mais longas:
¨Chegou o inverno! / O vento frio do norte sopra / a noite como um gelado manto desce / e a vida aguarda em repouso...¨
É tempo de hibernar. Época em que a energia vital adormece - escondida - em silêncio, aguardando o momento propício para se revelar. A vida vai sendo gestada no seio da terra para, finalmente, explodir exuberante na primavera.
É tempo de repensar, fazer planos e mudar de rota, caso seja necessário.
¨Nas longas noites de inverno / meus sonhos acalento na memória / aguardando com prazer o momento / em que na vida eles serão história…¨
No inverno a imaginação fica prenhe de novidades, seduzindo a memória, esse fenômeno maravilhoso que nos permite guardar um tempo que se foi, uma experiência que vivemos e que deixou marcas… ficou memorável!
Os gregos da antiguidade consideravam a memória algo divino. Por isso cultuavam-na como uma deusa: Mnemosyne, a Deusa da Memória. Acho poético pensar na memória como uma deusa. Imortal!
Mãe das Musas que protegem as Artes e a História, a Deusa Mnemosyne conferia aos poetas e aos advinhos o poder de presentificar o passado, recordando-o para a coletividade. Além disso, os poetas e advinhos também tinham o poder de tornar imortal um mortal, pois ao registrar em suas obras a fisionomia, palavras, gestos e atos de um humano, este não mais seria esquecido. Tornando-se memorável, não morreria jamais.
Pois, num desses dias recordei-me de uma viagem feita a Montevidéo, onde encantei-me com um sobrado totalmente recoberto de hera de inverno. As folhas de um verde suave e brilhante formavam um belo contraste com o madeiramento envernizado da casa, emoldurando amplas janelas de vidro.
Era uma fria mas radiante manhã de sol e fiquei a imaginar como deveria ser belo acordar, abrir as janelas de par em par e deparar com os ramos pendentes recobrindo as paredes, formando um luxurioso e verdejante jardim vertical.
E agora, cada vez que vejo uma parede pichada, com aqueles horríveis rabiscos de tinta sujando e enfeiando a paisagem, penso como ficaria bonito uma muda de trepadeira-castanha, unha de gato ou hera de inverno a recobrir as paredes.
Ou então madressilvas, lágrimas de Cristo, amor-agarradinho, alamandas, primaveras… São tantas opções!
Alegrariam os olhos e o coração.
O inverno ficaria mais verde e a primavera chegaria mais florida!
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