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terça-feira, 9 de novembro de 2010

500 ANOS ESTA NOITE / PEDRO TIERRA


 De onde vem essa mulher
que bate à nossa porta 500 anos depois?
Reconheço esse rosto estampado
em pano e bandeiras e lhes digo:
vem da madrugada que acendemos
no coração da noite.
 
De onde vem essa mulher
que bate às portas do país dos patriarcas
em nome dos que estavam famintos
e agora têm pão e trabalho?
Reconheço esse rosto e lhes digo:
vem dos rios subterrâneos da esperança,
que fecundaram o trigo e fermentaram o pão.
 
De onde vem essa mulher
que apedrejam, mas não se detém,
protegida pelas mãos aflitas dos pobres
 que invadiram os espaços de mando?
Reconheço esse rosto e lhes digo:
 vem do lado esquerdo do peito.
 
Por minha boca de clamores e silêncios
ecoe a voz da geração insubmissa
para contar sob sol da praça
aos que nasceram e aos que nascerão
de onde vem essa mulher.
 
Que rosto tem, que sonhos traz?
 Não me falte agora a palavra que retive
ou que iludiu a fúria dos carrascos
 durante o tempo sombrio
 que nos coube combater.
 Filha do espanto e da indignação,
filha da liberdade e da coragem,
 recortado o rosto e o riso como centelha:
metal e flor, madeira e memória.
 
No continente de esporas de prata e rebenque,
 o sonho dissolve a treva espessa,
recolhe os cambaus, a brutalidade, o pelourinho,
afasta a força que sufoca e silencia
séculos de alcova, estupro e tirania
 e lança luz sobre o rosto dessa mulher
que bate às portas do nosso coração.
 
As mãos do metalúrgico,
as mãos da multidão inumerável
moldaram na doçura do barro
e no metal oculto dos sonhos
a vontade e a têmpera
para disputar o país.

Dilma se aparta da luz
que esculpiu seu rosto
ante os olhos da multidão
para disputar o país,
para governar o país.
 

Brasília, 31 de outubro de 2010


Recebido da amiga Sonia Rezende

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