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domingo, 2 de novembro de 2008

ESPÍRITA VIAJEIRA


¨Ao entardecer, com a fresca, 
vou à horta da minha vizinha.
Acocoro-me debaixo dos girassóis gigantes
e, em silêncio, me deixo tocar pelo amor
dos aromas e cores da tarde.
O poço, fundo, oferece a água profunda da terra.
Agradeço!
E com ternura e força vou retirando água
e repartindo entre as cebolas, a salsa, o manjericão.
Descalça sinto a terra fria e a água entre meus dedos.
Sou uma planta e me rego. 
Mais água e canto louvores.
Agradecem os feijões, os cravos, o milho.
Se alguma menina ou menino rega comigo
a magia é ainda mais mágica. 
Elas fazem chover.
Elas chovem alegria aquática.
São brotos, são frutos, é paz.
Toronjil, llantén e gardênias.
O vento canta e sou espírita viajeira.
São todas as mulheres de todas os tempos
cultivando a terra. Sou vida!
E esta é a oração da lua crescente. Oração de fé.
Sou cúmplice da vida. Agradeço este dia.
Sei que não estarei só.
Sei que sempre alguma regará as plantas.
Que nos regaremos umas às outras
por sempre e sempre.
Me rego os pés pela última vez, bendita e plena:
fecho o portão da horta com cuidado
e vejo-as crescerem verdes,
dizendo-me até logo.
Agradecida e confiante vou à cozinha
tomar mate com minha vizinha na beira do fogo.
E sou fogo! ¨


Esse testemunho-oração-poema de uma camponesa de Santa Cruz de Cuca - Chile ao Coletivo Cons-piranda, 1993 é um verdadeiro hino de amor à vida, à natureza, ao planeta Terra, fruto de uma sensibilidade feminina-humana, mágica e plena! Vera

Um comentário:

Anônimo disse...

Que inveja!!!