MATEUS 25.1-13

Neste dezembro em que comemoramos o Natal, a magna festa cristã, quero partilhar esta bela reflexão do texto bíblico feita pela minha amiga Pa. Neusa Tetzner - Valinhos/CELVA:

Estamos diante de um texto estranho para nossos dias.
A parábola refere-se a uma festa de casamento da época, onde o costume era as virgens (damas de honra) irem encontrar o noivo e conduzi-lo até a festa na casa da noiva.
Alguns comentaristas dizem que a demora significava a importância do preço/ dote que o noivo havia pago para o casamento.
Quanto mais demorava a sua chegada, maior era o valor pago.

Entretanto, nem o noivo, nem a noiva são o centro das atenções neste texto, mas sim as virgens, as que deveriam esperar para conduzi-lo festa.
Logo de início se diz que eram 5 sábias/ prudentes e 5 tolas/néscia.
O que define quem é sábia ou tola é a quantidade de azeite que elas levam.
As prudentes contam com a possibilidade do atraso do noivo.
Talvez sejam as mais experientes e conheciam melhor a tradição, por serem mais velhas, ou por terem mais dinheiro, ... (segundo dados de alguns comentaristas).
Em todo caso, diz-se que essas estavam mais bem preparadas para o evento tão importante. As outras foram consideradas tolas ou imprudentes por não levar uma reserva de óleo, por não contar com a possibilidade de um atraso tão grande.
O texto aponta para a necessidade de estar preparado para o dia em que o fim vai chegar. Essa era uma preocupação dos primeiros cristãos.
Esperava-se o fim dos tempos para breve.

Ao contar essa parábola o evangelista Mateus queria chamar a atenção para o modo de vida das pessoas, que deviam levar mais a sério, a vivência do Evangelho. Mas também convidar para manter a esperança.
A reserva de óleo representa a esperança. Ainda que nem tudo aconteça como o previsto ou desejável, é preciso manter acesa a chama da esperança.
O sociólogo e prof. Luiz Eduardo Wanderley diz, que nestes tempos de crise, é preciso manter uma utopia viável.

Mas nem todas as pessoas conseguem viver assim. Algumas por pessimismo, outras por serem criticas demais, ou cautelosas demais, ou realistas demais,... Ou porque a vida é mesmo dura demais.
Mas também há aquelas que só conseguem viver ou tirar o sustento para o dia a dia. Não há como planejar o futuro, pois o futuro depende de reservas, seja material ou espiritual.
Muitas pessoas vivem no limite ou abaixo do limite.
Não porque querem viver assim, mas porque suas chances são muito menores que as de outras pessoas.

Por isso decidi olhar hoje para este texto de modo diferente das outras vezes que preguei sobre ele, quando li e interpretei de acordo com os exegetas.
Decidi olhar para as 5 virgens chamadas de néscias.
O que será que as impossibilitou de levarem uma reserva de óleo?
Elas estavam preparadas e desejavam ir para a festa.
E se foram convidadas, escolhidas é porque preenchiam os requisitos necessários para o convite.
Tinham o necessário para chegar até ali. Mas estavam no limite.

A vida de muitas pessoas também é assim.
Pensemos nas pessoas ou estórias que conhecemos de gente que quase conseguiu um emprego, mas faltou um documento, a experiência comprovada...
O jovem que quase conseguiu passar no vestibular, mas faltou uma base melhor na formação, e a vaga é muito concorrida.
Os concursos públicos ... E assim podemos ir coletando ... Gente que quase chegou lá, mas tem que começar de novo, lutando com a esperança de um dia também poder entrar na festa.

Por outro lado, diz o texto, que as sábias e prudentes tinham uma reserva, mas não quiseram repartir por medo de faltar para ambas.
O medo não permite arriscar. Gente prudente demais não arrisca e também não sonha muito. Tudo é muito planejado.
Tem o seu lado bom, mas não é garantia de felicidade.
Tem muita gente que entra e participa da festa, mas não é feliz, porque falta algo. Lembremos de novo os jovens que entram no curso tão desejado, mas tempos depois descobrem que não é a sua vocação. Ou as pessoas que não estão satisfeitas com o seu emprego, apesar do salário bom.

Por isso olho para este texto também perguntando pela falta de solidariedade.
E recordo Jesus quando partilhou 5 pães e 2 peixes e alimentou 5 mil pessoas (Mt 14; Lc 9). E também o hino que diz:
De mil maneiras pode da morte nos salvar,
sustenta-nos acode, se fome se alastrar.
Um pouco, dá fartura e traz satisfação,
tirando da amargura quem sofre na prisão.

Creio na necessidade de vigiar, de estarmos atentos ao chamado de Deus, não por medo ou coação, mas pela necessidade de olhar o mundo com o olhar amoroso de Deus, que convida e aguarda a todos e todas para a grande festa.
Creio que a porta, sinal de esperança, de entrada para uma vida nova, continuará aberta, porque Deus insiste e quer ver a sua casa cheia.
E para isso conta com a nossa ajuda, com a nossa solidariedade.
Que Deus nos ilumine e nos dê sabedoria e prudência; coragem e humildade para entender e aceitar o seu convite.
Amem!

E que esta reflexão nos ilumine para um modo novo de olhar o Natal e as festas que se aproximam...